A primeira invasão

Líderes do governo e do PT ainda se engalfinham nas tarefas de “afinação da viola” e de apagar o fogo surgido com as sérias dissidências internas, e o Movimento dos Sem-Terra – MST já realiza sua primeira invasão. Escolheu para isso um prédio público: a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra em Cuiabá, Mato Grosso. Cerca de 300 pessoas ocuparam o prédio na noite de sábado último. Os invasores agem em protesto contra a falta de solução para o assentamento, que alegam prometido em áreas improdutivas do Sul e do Norte do estado.

Os invasores avisam que somente sairão do prédio, que tomaram inteiramente, quando tiverem cumprida a promessa. Reforçando a “guarda”, outras 500 pessoas acamparam diante da sede do Incra, levando roupas, colchões e alimentos, numa demonstração de que vieram para ficar. Do lado do Incra, o superintendente substituto, Juari Catarino Arantes, apavorado, não sabe exatamente o que fazer. Anunciou que vai entrar na Justiça Federal pedindo a reintegração de posse do prédio e que só negocia com os acampados depois que eles deixarem o edifício.

O impasse criado, pode-se dizer, não é de grande monta. No passado, coisas piores e maiores já aconteceram, incluindo a invasão de um imóvel pertencente à família do presidente da República. A importância dele está no fato de ser a primeira invasão ocorrida dentro dos domínios do governo Lula. O comportamento do Planalto a partir dessa invasão pode ser tomado como uma espécie de “jurisprudência” para as que, seguramente, haverão de acontecer daqui para frente.

Em Mato Grosso, segundo se tem conhecimento através do noticiário publicado pelos jornais, a situação é bastante tensa. Os fazendeiros, unidos, formaram uma associação com a finalidade de impedir invasões. Até dezembro eram cerca de mil associados comprometidos por um estatuto que prevê ajuda recíproca, inclusive armada, no caso da ação invasiva do MST. Segundo informa o Movimento dos Sem-Terra, cerca de 2.500 famílias aguardam assentamento e seus líderes garantem que não buscam o conflito e, sim, a negociação. Mas alertam para uma possível escalada de violência, pois as famílias estão à espera do cumprimento do que lhes foi prometido. A pressão, por motivos vários, se dá sobre o governo.

A ação do MST – que ninguém duvide – atende a um comando central. No Fórum Social de Porto Alegre, o líder máximo João Pedro Stédile anunciou que a arregimentação de pobres em todo o País para a ocupação de propriedades alheias teria continuidade, pois duvida que uma ação de governo seja eficaz (naturalmente dentro das expectativas do movimento) sem forte pressão social.

Agora, a questão como está posta exige que o governo Lula, que tem razoável e histórica proximidade com os mentores do MST, precisa escolher de que forma pretende agir: se impondo o respeito à coisa pública e privada, ou se transformando-se em refém de um movimento que, além do horizonte da reforma agrária, tem evidentes objetivos políticos. A primeira invasão poderá ser, também, a última. Ou o triste desencadeamento de atos de desrespeito, não apenas a órgãos públicos, mas também a supermercados e estabelecimentos do gênero, como já ocorreu no passado.

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