A lição de Palocci

O ministro Antônio Palocci, envolvido na onda de denúncias que atinge o PT e o governo Lula, deu uma lição, principalmente ao presidente da República, que tem preferido silenciar ou minimizar as acusações sobre o mar de lama que o cerca, o que só agrava a situação e aumenta a instabilidade política, enfraquecendo a confiança da população.

Acusado por seu ex-assessor e ex-secretário na Prefeitura de Ribeirão Preto, Palocci reagiu com indignação e de imediato. Disse que tudo não passava de deslavadas mentiras e foi adiante. Marcou uma entrevista coletiva com a imprensa, aberta a perguntas, à qual se apresentou firme e decidido, a não só reafirmar sua reputação de homem público sério, como assegurar a estabilidade econômica do País. Não mudará os rumos de sua política econômica, embora não poucos, no seu próprio partido, a condenem.

Quanto ao recebimento de mensalões enquanto era prefeito, que seriam repassados ao PT, disse que isso nunca aconteceu. Ou não aconteceu com sua interferência e conhecimento. Recebeu, sim, ajudas para a campanha, contabilizadas e informadas à Justiça Eleitoral. Foi adiante, dizendo que se era uma prática de anos, como foi alegado pelo denunciante, seu ex-auxiliar Rogério Buratti, certamente saberia, pois era o prefeito e um crime continuado, dessa natureza, não poderia ser praticado às escondidas, sob suas barbas. Lula de nada sabia.

Quanto às suspeitas levantadas pelo Ministério Público sobre telefonemas dados ou recebidos por Buratti, que levariam à conclusão de que o denunciante gozava da intimidade e tinha influência no Ministério da Fazenda, mostrou que era pura fantasia. Os telefonemas não resultaram nos encontros pretendidos, nem comprovaram a advocacia administrativa que seu ex-assessor estaria praticando, com o beneplácito de José Dirceu ou dele mesmo, Palocci.

Ao invés de discursos de palanque, Palocci preferiu a resposta direta e objetiva. Garantiu que os estamentos da economia brasileira estavam e estão firmes. Não negou a crise política, mas assegurou que ela não será capaz de abalar a economia. Verdade ou apenas ambição, o futuro dirá, mas cumpre ao ministro mostrar essa confiança, pelo bem do Brasil.

Além de, com o exemplo, dar a Lula a lição de que o silêncio ou o menoscabo não são a melhor defesa das acusações que sobre o PT e seu governo pesam, admitiu que tudo deve ser investigado, mesmo as acusações que sobre ele foram lançadas. E as enfrentará sem medo, pois sabe ser inocente.

Não utilizou, também, de outro expediente que Lula manipula com excessiva freqüência, procurando apropriar-se sozinho dos sucessos econômicos do governo. Para Palocci, a estabilidade da nossa economia e a confiança que ela inspira começaram com governantes anteriores, citando nominalmente José Sarney e FHC. Lula tem preferido exaltar o seu governo cotejando-o com o de FHC, que nada teria feito.

O único equívoco de Palocci foi anunciar uma carta ao governador de São Paulo, pedindo-lhe que contenha o Ministério Público daquele Estado, que tornou públicas as denúncias que inquina de inverdades. O Ministério Público é independente e nele só mandam a lei e o procurador-geral. Nem Lula, nem Alckmin, mandam no Ministério Público.

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