A estrela no chão

Já falamos aqui – mas o assunto é momentoso e requer repeteco – acerca da estrela do PT desenhada nos jardins do Palácio Alvorada e na Granja do Torto. Dissemos que normalmente estrelas aparecem no céu, nas alturas. Mas estas estão no chão. Literalmente. E a estrela do PT cai por obra e graça do próprio pessoal do partido. Vejamos.

Antes, porém, ouçamos atentamente o que diz o superintendente em Brasília do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, Cláudio Queiroz, em carta dirigida ao Planalto, atendendo a consulta suscitada posteriormente à notoriedade assumida pelo feito. As estrelas em questão, explica o funcionário público consultado, “são canteiros de uma planta da família das labiadas, usada como tempero culinário”, e “poderiam ser consideradas hortas comuns de uma agricultura familiar, não fossem suas formas comemorativas, dado o simbolismo transcendente, cuja rubra finitude exprime o sentimento pretendido no desejo subjacente”.

O superintendente do Iphan continua afirmando que a despeito da conveniência de preservar de “maneira intransigente” o paisagismo histórico do Alvorada, a plantação da estrela “pode, mesmo assim, ser considerada tão passageira quanto uma simples disposição de bibelôs sobre os móveis, malgrado seu caráter peculiar, o que, para muitos, poderá significar um pingüim sobre geladeira”. Sentença final: “Dado o caráter temporal e a possibilidade de recomposição dos locais (Alvorada e Torto), a alteração paisagística deve ser considerada recuperável, mesmo após o desempenho de sua função agrícola ou mesmo estética, efêmeras em ambos os casos”.

Um espetáculo de carta. Mas ninguém acredita nessa hipótese de a primeira-dama, dona Marisa Letícia Lula da Silva, ter mandado plantar as tais “labiadas” com a intenção de fazer saladas ao marido presidente. Portanto, retire-se do cardápio dos debates a vã tentativa de transformar a vermelha estrela do PT em artigo de primeira necessidade, isto é, em comida. No Planalto não há fome. A situação estaria mais para o “pingüim de geladeira”, uma efêmera e inútil função estética, mesmo e a despeito do “simbolismo transcendente” que encerra, cuja “rubra finitude” exprime um “sentimento” cada vez mais restrito a poucos que ainda alimentam esse “desejo subjacente” de mudar tudo o que aí está, já não mais sustentável na realidade de infelizes fatos que se sucedem na República…

Feito isto, voltemos à estrela cadente do PT. Dizem que Lula anda irritado com a falta de desempenho de seu governo e com a demora na produção de resultados positivos, ardentemente esperados pelos brasileiros desde sua retumbante posse. Deu 15 dias de prazo para que os ministros da área econômica apresentem argumentos e sugestões do que pode ser feito para acelerar o crescimento econômico, com reflexos imediatos na geração de empregos. Deu dez dias de prazo para os ministros da área política e a seus líderes no Congresso para que resolvam os problemas que contaminam a base aliada e prejudicam as votações desde que estourou o Waldogate, antes do Carnaval. Aos do PT, mandou que esqueçam, pelo menos por enquanto, de criticar o ministro Antônio Palocci, da Fazenda, e centrem fogo na oposição, principalmente no PSDB, batendo na tecla da “herança maldita” deixada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Ora, enquanto assim ordenava Lula em Brasília, numa certa ilha baiana chamada Comandatuba, diante de uma seleta platéia de grandes empresários brasileiros, o ministro Palocci assumia claramente estar dando continuidade à política econômica de FHC. “Se é igual e estiver correto – confessava Palocci – vou continuar fazendo isso por mais dez anos.” O autor da “herança maldita”, FHC, estava na platéia. Foi o primeiro encontro de que se tem notícia dos dois. E pouco antes, à mesma platéia, o ex-presidente criticava seu sucessor por alguns atos e paralisias, incluindo a anunciada contratação de 40 mil novos funcionários públicos. Pura alegoria: atropelada na rota gravitacional do governo, a estrela petista cai no gramado. Brota, mas não é alimento. Antes – como diz a carta – um inútil bibelô.

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