A dignidade do presidente e o respeito ao Brasil

Há um evidente exagero e até mesmo uma distorção da natureza dos fatos nas análises que sustentam que a suspensão do visto temporário do jornalista do The New York Times representa uma agressão à liberdade de imprensa no Brasil. É também um despropósito supor que a adoção dessa medida representa um primeiro ato de uma escalada crescente de intimidação de jornalistas e de uma caminhada rumo a medidas arbitrárias. Os Estados Unidos não deixam entrar legalmente em seu território pessoas de outros países, inclusive vários brasileiros, e agora o seu governo e os seus jornais querem dar lições de democracia e de liberdade para o Brasil.

O próprio The New York Times comprovou a existência da ampla liberdade de imprensa existente no Brasil e sob o governo Lula quanto sua equipe fez uma reportagem sobre o governo e sobre o PT acompanhando, inclusive, viagens do presidente. Todos os documentos, todas as informações solicitados pela equipe foram fornecidos tanto pelo governo, quanto pelo PT. Os jornalistas do The New York Times, como os jornalistas de qualquer jornal estrangeiro ou nacional, continuarão tendo toda a liberdade que sempre tiveram para informar e criticar o governo. O governo Lula e o PT são compostos por pessoas que foram buscar nas ruas, nas praças e nos porões da ditadura o direito de liberdade de imprensa. Somente pessoas que não lutaram contra a ditadura ou estiveram ao lado dela podem supor que o governo petista encetará o caminho arbitrário da supressão da liberdade de imprensa.

Por não ter o devido respeito aos fatos, à verdade da informação, às pessoas, ao presidente Lula e ao Brasil, o jornalista Larry Rohter deu-se o direito de cometer um enorme abuso caluniando, difamando e injuriando a pessoa do presidente Lula. Repita-se, deu-se o direito, porque a legislação brasileira não garante o direito aos jornalistas de difamarem, injuriarem e caluniarem qualquer pessoa. Por isso, essas atitudes são consideradas criminosas e os seus praticantes têm que responder perante a Justiça ao cometerem esses crimes. Então, o que está em discussão, antes de tudo, não é um direito, não é a liberdade de imprensa, mas um crime cometido pelo jornalista norte-americano. A matéria que ele produziu foge ao padrão e à praxe do jornalismo. Não se trata de informação, da revelação de um fato sustentado em provas. Além de criminosa, a matéria tem o evidente interesse político de produzir prejuízo político ao presidente Lula e ao Brasil.

Ferido em sua honra pessoal, ferido em sua dignidade política por ocupar a primeira magistratura do País, conferida pelo povo, o presidente Lula não poderia ficar inerte diante da ofensa e da agressão perpetradas pelo jornalista norte-americano. Ao agredir a honra e a dignidade do primeiro magistrado do Brasil e por se tratar justamente do chefe de Estado e chefe de governo, o jornalista agrediu também a dignidade do País, faltando-lhe o respeito com o nosso povo. Acusar esta dedução lógica e política de “patriotada” expressa uma total falta de dignidade e uma deserção do dever de defender a honra e o orgulho do Brasil e de seu povo. Cada País e cada povo têm seu orgulho e é um dever dos representantes eleitos e dos governantes defendê-lo. Supor que essa atitude altiva se reduz a uma “patriotada” demonstra o quanto algumas mentes traduzem no teclado do computador e nas páginas dos jornais sua profunda prostração, colonização e subserviência diante da arrogância e da vileza dos mais fortes.

O Brasil seria uma República de bananas se o governo não reagisse à agressão perpetrada contra a honra do presidente e à imagem do País. Da mesma forma que o governo brasileiro foi altivo ao exigir simetria nas relações comerciais buscando condenar o subsídio ao algodão norte-americano na Organização Mundial do Comércio (OMC), tem o dever de ser altivo também nas questões políticas, nas questões de honra e de orgulho e nas questões de imagem dos nossos representes e do Brasil no exterior.

Ao discutir as relações entre ética política e ética religiosa no seu famoso ensaio, “Política como Vocação”, Max Weber mostrou muito bem que a ética da política, a ética da responsabilidade, é também uma ética da altivez. Se podemos e devemos praticar o evangelho na vida privada e aceitar com resignação que nos batam numa das faces oferecendo a outra, esta não é uma atitude aplicável na política e na vida pública, ainda mais quando estão em jogo os valores da dignidade e do orgulho do País e de seus mandatários.

Ao sustentar que a governabilidade do Brasil está sendo prejudicada por abuso do uso de álcool pelo presidente, o jornalista americano não se limitou a caluniar e difamar. Está prejudicando os interesses do Brasil no exterior. Não é a primeira vez que o faz. Buscando minimizar o dano causado à dignidade do presidente e aos interesses do Brasil, as gestões do governo brasileiro junto ao jornal norte-americano não encontraram eco. Praticamente inalcançável pela Justiça brasileira por ser estrangeiro, o jornalista americano precisa responder de alguma forma pelo seu abuso e pela sua irresponsabilidade. O que o governo brasileiro fez foi reagir politicamente a uma calúnia e a uma agressão.

José Genoino é presidente nacional do PT..

Voltar ao topo