A difícil decisão: dar continuidade ou mudar?

Muito se espera dos novos governos municipais. Em qualquer município do Estado as necessidades são sempre as mesmas, as esperanças estão todas renovadas e a falta de dinheiro, já crônica, será, mais uma vez, a única arma que os novos secretários terão, pelo menos a princípio, para dar explicações pela ausência disso ou daquilo. Discurso comum à parte, vamos tocar em um assunto muito sério, porém pouco percebido pela população em geral. Só para esclarecimentos iniciais do leitor pouco iniciado nos trâmites da educação municipal, eis algumas colocações: o que é diferente, em termos de materiais escolares, entre as escolas estaduais, municipais e particulares? A grosso modo, nas escolas estaduais, salvo raras exceções, os materiais, livros, apostilas e similares são escolhidos por um grupo maior. Professores e envolvidos no processo fazem, ao final dos anos, opções entre uma oferta, às vezes limitada, de títulos de livros que serão distribuídos gratuitamente pelo governo. Nas escolas particulares, aquelas que possuem apostilamento próprio, essa prática não existe. O material é produzido segundo os conceitos da instituição, para uso dela e de quem nela acreditar, os chamados convênios. Mas no caso das escolas municipais, a situação é uma mescla desses dois tipos: há uma liberdade total de escolha de materiais pedagógicos, didáticos, livros e apostilas. Juntar-se-á à escolha do material a concepção de uma empresa, a que produzirá as apostilas a serem usadas. Aí é que está o problema. Nem é preciso dizer que há atrocidades, protecionismo e interesses embasando algumas dessas negociações, afinal, são quatro anos de distribuição de material ininterrupto ao município, às vezes de grande proporção. O pacote pode incluir preparação de professores, capacitações e treinamentos para o uso desses materiais. Não haveria problema algum se a dinâmica fosse tão somente essa. O problema é que em poucos municípios do Estado haverá efetivamente tempo e vontade suficientes para esse processo. Qual processo? Os novos secretários deveriam se reunir com professores, diretores e pais de alunos para, junto discutirem propostas verdadeiras para a educação municipal. Inclui-se aí a escolha dos livros e das apostilas, se houver essa necessidade, a serem comprados. Diante da participação coletiva, única pertinente nesse caso, discutir-se-ia a continuidade, ou não, daquilo que já vem sendo realizado em termos de educação no município. Assim, caso o processo, já instaurado nas administrações anteriores, tivesse apresentado bons resultados e tivesse sido estruturado coletivamente, de forma responsável e participativa, buscariam apenas aperfeiçoamentos necessários, fariam ajustes, atividade vital em quaisquer que sejam os projetos. Mas, se os processos anteriores não apresentassem essas qualificações, daí sim, procederiam às novas opções e orientações, o que poderia justificar a troca ou a opção de um novo método.

Triste é perceber que isso irá, com excesso de crença da minha parte, acontecer na ínfima minoria dos municípios. Na maioria deles irá acontecer o total desmantelamento daquilo que se vinha estruturando há anos, só pelo antigo e perverso comportamento de alguns brasileiros, que ainda acreditam que mudar é sempre o único caminho. Melhorar, aprimorar, edificar a partir daquilo que já se construiu nunca são opções deles. Mudam as propostas a cada novo mandato e, dessa forma, não há como desenvolver um projeto municipal de educação, visto que, a cada quatro anos, desfaz-se tudo e recomeça. Alguns municípios apresentam resultados tão satisfatórios que causariam inveja a municípios de países de primeiro mundo. Esses municípios possuem resultados excelentes, atendem 100% das crianças em idade escolar em educação infantil e ensino fundamental. Além disso, contam com projetos extracurriculares em que os alunos são assistidos e dirigidos por todo o dia. Mas pena que essas práticas maléficas também atingirão esses municípios.

Há, porém, outras realidades tristes Estado afora, municípios que necessitam encaminhamentos, bases conceituais, projetos educacionais e competências profissionais. Esses correm o risco de mais uma vez permanecerem por quatro anos inertes, mornos, sem vida própria. Apenas cumprirão com os mínimos da legislação vigente, mas não buscarão soluções, talvez porque não querem superar suas próprias dificuldades, já crônicas. Deixarão tudo como está. Triste opção.

Diante dessa realidade preocupante, gostaríamos de ter dos novos secretários municipais de educação, o discernimento para pontuar sobre todos esses elementos aqui colocados, e o comprometimento com as causas da educação, tão somente, pois dessa maneira, tenho certeza que o aluno, única razão do nosso trabalho de educadores, sairá ganhando, ou melhor, terá seus direitos constitucionais minimamente garantidos. O que por si só já será um enorme avanço e dará, a cada secretário, razão para alegrar-se. Sublime comportamento.

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