A diferença faz a união

Uma das principais missões dos executivos responsáveis pela elaboração das políticas de recursos humanos é fomentar a diversidade dentro das organizações. Estimular a reunião e opinião de profissionais com visões distintas, cada qual com seu repertório cultural e história de vida, garante eficiência e competitividade aos negócios, além de tornar o processo produtivo oxigenado e freqüentemente inovador. Diversificar o capital humano, num ambiente plural e democrático, é uma experiência enriquecedora que, naturalmente, nos leva a olhar a diferença com isenção e concluir que ela faz a união no mundo corporativo. Portanto, a discriminação é um mal que também necessita ser sepultado do mercado de trabalho. Esta visão limita o aproveitamento dos talentos e, numa ação mais predatória, prejudica a atração e retenção de gente.

A promoção da diversidade transformou-se numa questão competitiva empresarial. Qual a importância da classe social, raça e credo das pessoas no desempenho cotidiano dentro do escritório? Posso garantir que nenhuma. E o dilema dos profissionais que estão beirando os 40 anos? É no mínimo absurdo dispensar a sabedoria, a maturidade e a capacitação técnica de alguém só porque atingiu certa idade. Lao-Tzu, filósofo chinês, escreveu que o homem verdadeiramente sábio rejeita o excesso, a prodigalidade, a grandeza. Tal preconceito firma-se como uma das maiores aberrações e perversidades da administração corporativa moderna. Além do desemprego estrutural e da instabilidade econômica, o mercado se torna ainda mais estreito para quem o tempo biológico avança sem dó nem piedade.

Poucos anos atrás, as oportunidades eram restritas na recolocação de profissionais de 50 anos. Hoje, a exclusão atinge aqueles que romperam a barreira dos 40 anos. Onde vamos parar? Configura-se, assim, a institucionalização da discriminação e a crença de que somente a disposição da juventude é suficiente para a solução dos problemas. Diante desse cenário, as regras são penosas com essas pessoas. Maior ingratidão e injustiça, no entanto, se aplicam nas justificativas. A mais emblemática delas diz que homens e mulheres de meia-idade sofrem com a síndrome da perda de produtividade, sucumbem ao potencial criativo e se tornam lentos num mercado cada vez mais complexo e mutante. Por este raciocínio, a lógica subverte a ordem dos fatos, desperta a ambigüidade da situação e, de alguma maneira, fragmenta a rotina, ou seja, no instante em que a carreira se descortina, o executivo dessa faixa etária é banido.

É um equívoco desprezar a sabedoria desses profissionais e eliminá-los dos postos-chave das corporações. Para superar a resistência, cabe ao talento utilizar-se da experiência e currículo para criar um ambiente propício ao aprendizado, conhecimento e entendimento. Neste caso, não cabe à filosofia passar pela vida, cabe à vida passar pela filosofia. Fornecer visão dos acontecimentos, que influenciaram seu destino constitui um verdadeiro desafio. Tudo aquilo que somos é o resultado daquilo que pensamos, baseado nos nossos pensamentos composto por nossos pensamentos. Daí, conclui-se que a capacidade realizadora não tem idade para despertar.

O segredo para manter-se sobrevivente nesta selva corporativa é o desenvolvimento freqüente da motivação humana. A necessidade de continuar se reciclando faz a diferença em qualquer campo de atuação, que dirá num setor cada vez mais sedento e desejoso de gente competente. A experiência é um diferencial competitivo, mas a pergunta é outra: o que fazer com ela e como utilizá-la? As mudanças que permearam o fenômeno da globalização exigiram um novo tipo de atuação dos profissionais modernos. Atualmente, não basta ter vivência, sabedoria e conhecer os atalhos e os remédios que um dia foram eficientes. A velha máxima de procurar novas soluções para velhos problemas tornou-se fonte de aprendizado e receita a ser seguida por aqueles que ambicionam permanecer na ativa.

Entretanto, para fazer parte e desempenhar papel fundamental dentro da estrutura organizacional, as empresas vão privilegiar e investir nas pessoas que fazem a diferença, capazes de desembaraçar pendengas internas e externas. E para esse personagem não há limite de idade para continuar produtivo. Portanto, consciência e sensibilidade apontam numa só direção: basta inovar-se, estudar, desarmar o espírito, manter-se informado e capacitar-se para transmitir e receber conhecimento. Como sintetizou o grego Epicuro, o homem sereno procura serenidade para si e para os outros.

Júlio Sérgio de Souza Cardozo

é presidente da Ernst & Young Auditoria.

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