A crítica do vice

O Conselho de Política Monetária (Copom) manteve a altíssima taxa básica de juros (Selic) em 26,5%, retirando apenas o viés de alta. Isso significa que nova fixação do patamar de juros só ocorrerá na próxima reunião daquele colegiado, no mês que vem. Diante desse fato, é importante recordar recente pronunciamento do vice-presidente José Alencar. Embora manifestações contra a política do governo dentro da própria equipe de Lula tenham sido bastante comuns e respondidas com públicos puxões de orelha, desta vez a crítica partiu do vice, que não é do PT e sim do PL e empresário. Por isso, deve-se dar-lhe maior importância, pois se ele, com os compromissos que tem com Lula e seu governo, faz críticas abertas e públicas, imagine-se o que não estarão dizendo ou pensando centenas de outros empresários brasileiros.

José Alencar disse que “o Brasil não está tão bem assim”, ao defender a aprovação das reformas, principalmente a trabalhista. Aliás, a trabalhista, em pesquisas de opinião pública, apareceu como a prioritária para as pessoas consultadas, superando a da Previdência, a tributária e o projeto Fome Zero.

“Precisamos estar em condições de compreender o novo tempo que estamos vivendo. O Brasil não está tão bem assim. Temos que fazer alguma coisa para ajustar a economia brasileira para que ela volte a crescer, gerar empregos e, principalmente, distribuir renda”, disse o vice-presidente da República.

Alencar lamentou a manutenção das altas taxas de juros (e isso bem antes da recente decisão do Copom) e a necessidade de captação de dinheiro externo para manter o valor da moeda. Ele aponta como solução “fazer crescer o saldo da balança comercial para que haja o fim do constrangimento cambial e o Brasil possa naturalmente crescer por meio da queda dos juros, que pesam brutalmente sobre a economia brasileira”. Aí, a queda já verificada nas cotações do dólar em relação ao real, tão festejada, trabalha contra a solução apontada pelo vice-presidente, pois é evidente que, a partir de certo patamar, as exportações começarão a ser prejudicadas. Os nossos exportadores, com o dólar muito baixo, receberão, na conversão, menos reais pelo que exportam. Isso não lhes interessa, nem ao Brasil.

José Alencar criticou também a política salarial. Ou melhor, a falta de uma política salarial. “A cada dia – disse ele – o salário é mais achatado. Além do desemprego, estamos convivendo com o subemprego.” Alencar defende a flexibilização da CLT, bandeira do governo FHC combatida pelo PT. Ele entende que, com a flexibilização, todos os sindicatos estarão em melhores condições até para fazer movimentos de reivindicação salarial.

A política atual do governo Lula, que adverte que quem tem pressa come cru, como disse ao ministro da Educação que pedia verbas, é entesourar para reduzir nossa dependência externa. A manutenção de elevadíssimas taxas de juros, que só no governo Lula subiram duas vezes e tiveram uma manutenção no patamar mais alto, visa conter a inflação, uma fórmula duvidosa porque não parece haver inflação de demanda. Visa também atrair investimentos, porque o País precisa captar para rolar suas dívidas interna e externa. A melhora do risco-Brasil e o reinício dos fluxos de capitais interrompidos durante a campanha eleitoral ainda não conseguiram criar condições para uma baixa efetiva dos juros. Enquanto isso, o País não cresce e aumenta o desemprego.

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