A chuva nos traz muitas lições

O caos que a cidade se tornou no domingo passado mostra o quão despreparados estamos para enfrentar as intempéries da natureza. Vimos gelo pelo chão, árvores caídas e tetos desabando ou jorrando água por todos os lados. Diriam alguns (ou muitos) que tempestade parecida com aquela nunca havia acontecido em Curitiba, mas e daí? Daí que a cidade não suportou uma chuva forte com vento e granizo (por maior que fossem) simplesmente porque não está mais preparada para isso.

Falta cuidado com o patrimônio público e, por conseqüência, com aquilo que é de todos nós (afinal não dá para levar uma casa nas costas e tirá-la de um local propício aos desastres naturais), que somos vizinhos de ruas, praças e parques. Um exemplo é que na semana passada uma moto-serra, com seu barulho infernal, podava os galhos revoltosos das árvores na Alameda Visconde do Rio Branco. Conseqüência? Muitos galhos no chão após a destruição de domingo. Nenhum caiu em cima de um pedestre desavisado ou um carro perdido no temporal. Haviam sido previamente cortados para evitar qualquer risco.

Isso quer dizer que alguém estava tomando o cuidado de proteger as árvores (sim, elas precisam ser cortadas para sobreviverem) e também nós todos (possíveis vítimas de um galho na cabeça). A pergunta que não quer calar é porque não tomaram essas providências anteriormente? Quantas árvores continuam por aí oferecendo perigo ao pobre cidadão contribuinte? Muitas delas, principalmente eucaliptos (tipo introduzido no continente por crescer rapidamente, mas que em compensação destrói tudo ao redor e só serve para fazer papel), continuam por aí prontas para desabarem.

Isso sem falar que o sistema pluvial não comporta mais tanta água. Isso vale para qualquer chuvinha mesmo. Se alguém quiser conferir de perto basta ficar próximo da Rua dos Chorões (Fernando Moreira). É batata! Os carros precisam estar com pneus de chuva para conseguirem transitar pelo rio que se forma no canal e nas vias ao lado. É a mesma situação dos prédios públicos atingidos pelo dilúvio. Faltou preparo para enfrentar a água. Calhas sujas, pequenas e obstruídas puseram a perder equipamentos, alagaram repartições e até supermercados deixando a perigo a segurança de quem acredita estar protegido debaixo de uma laje de concreto.

Isso mostra que as chuvas de domingo apenas deixaram alguns problemas que já existiam mais aparentes. Agora, ninguém poderá dar mais a desculpa de que nunca tinha visto nada igual e fazer que não era com ela. Pelo contrário, um novo parâmetro foi estabelecido e não vale só para o alcaide de plantão. Vale também para o cidadão comum, na hora de construir sua casa ou sua loja. Qualquer nova edificação tem que estar preparada para suportar granizo e chuva forte. Não acredito que alguém vá querer expor seu pescoço num supermercado que pode desabar a qualquer momento.

Rodrigo Sell

é repórter de Esportes de O Estado

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