A ameaça não vem do Alto

Este não é um debate religioso (não é meu comportamento, nem este espaço serve para tal fim), mas uma reflexão de tantos que, não a podendo expressar, fazem-no por intermédio do articulista. Além disto, tenho por hábito não tratar de temas que, de alguma forma, podem dar lugar a melindres de alguns, porque respeito tudo e a todos. Contudo, vivencio acontecimentos que afetam minha vida e, quem sabe, a de outras pessoas – como talvez o meu caro leitor, por quem tenho a maior consideração. Assim, a pergunta que cala fundo é: Deus limita o campo de ação do homem (não me refiro à ação que provoque danos a si próprio, ao próximo e à sociedade), criou leis e pune aqueles que não as cumprem?

Deixo claro que tive educação religiosa e tenho (julgo tê-los) bons princípios, que me foram legados por essa catequização, mas penso que as coisas merecem pequenos reparos da inteligência. Afinal o intelecto não é uma dádiva de Deus? Bem, tudo parece razoável até o momento que entra em cena o homem, que escraviza a mente de seu semelhante e a conduz por intermédio da mão do medo do desconhecido. E é deste desconhecido que se vale o homem, que é líder em qualquer igreja, seita ou filosofia religiosa, para tocar na boa fé dos indefesos seguidores. O que se ouve então? “Não faça isso, senão Deus castiga! Se você não me ouvir (ou se não ouvir a voz do Senhor), sabe o que acontece? Está na Bíblia”. A ameaça é terrível e soa como uma sentença dura mandada por um ser frio e impassível. Seria este o Deus de minha fé? Não! Deus não é isso, não é nada parecido com o que dizem os homens. Sinto isto em meu coração; nada é tão certo para mim quanto o amor de Deus, que é pai. Um pai, com um pouco de equilíbrio emocional e psicológico, seria capaz de assustar um filho e reservar para ele uma prisão ou qualquer outro local de sofrimento, para punir a condição humana (Deus nos fez humanos) herdada dos que o antecederam?

São perguntas e perguntas que não exigem resposta imediata, mas levam-nos a pensar se não haverá algum interesse dos homens (uns poucos) em jogar a responsabilidade do que falam para Deus, que as pessoas não vêem materialmente e, por isto, sentem-se ameaçadas e ficam na dúvida. Na dúvida, ficam com medo – medo que é usado de todas as formas e com diversos propósitos. Recomenda-se a ponderação, pois a ameaça não vem do Alto, mas dos que estão cá embaixo…

Entre Deus e os homens, não há como deixar de fazer a escolha adequada. Deus não assusta nem pune ninguém. Felizmente, creio em Deus e fico com Ele, que me ama e eu O amo – um sentimento elevado e sem limites. Entendo que o meu caro leitor também concorda que Deus nos ama. Então, certamente, achará um tanto difícil aceitar o que proclamam os homens (não são todos, é claro) – eles mostram o Pai Celestial complicado, sem a mínima razão de ser amor. Porém, fora do amor, Deus não seria Deus.

Seria melhor refletir e fazer um exercício mental e espiritual para ter Deus no mais alto trono de respeito e adoração. Tudo muito simples, sem a mistificação que turva a razão pelo poder das emoções, contra a vontade de homens que julgam poder dominar seus irmãos incautos com a ameaça da “vingança” do Alto, amedrontando-os e levando-os a buscar a proteção da obediência cega aos homens, arautos sem procuração do Pai Celestial. E dizer o quê? Senhor, livrai-nos das ameaças!

Antes de finalizar, esclareço que sou religioso (religiosidade que trago da infância) e não sou contra nenhuma igreja, seita ou filosofia (se tivesse que me definir, diria que sou a favor delas em geral) – tenho reverência por todas. Cada uma contribui, a seu modo, para uma sociedade com mais amor, mais harmônica, mais pacífica e fraterna; portanto, tratam-se de entidades e congregações que devem ser preservadas e incentivadas. Apesar disto, cumpre-me declarar-me cético em relação a alguns (felizmente, não são muitos) que delas participam, especialmente uns poucos de seus líderes. Ao invés deles, fico com Deus, o meu Senhor. E devo fazer justiça: há líderes e muitos participantes, verdadeiros exemplos nas entidades religiosas – não ameaçam e nem assustam em nome de Deus, mas são autênticos filhos do Pai e agentes de Seu grande amor. Esses ouvem (e transmitem) a voz de Deus e não outras.

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