A alegria de entender a vida

Em 1961 um grupo reduzido de homens idealistas fundava o Rotary Club Curitiba Norte. Entre eles estava um gaúcho, quinto filho de uma estirpe de origem judaica, que aportara no Brasil nos idos de 1913: Moysés Bronfmann, cujo irmão Saul, de saudosa memória, chegara a governador do Rotary.

A família, que antes se fixara no Uruguai, onde nasceu o primogênito Simão, passara pela Argentina, onde Jacob e Saul vieram ao mundo, estabelecendo-se em Santana do Livramento, terra natal de Clarita, Moysés, Felipe e Sara, esta, recentemente falecida.

Como Saul cursava medicina em Curitiba e Jacob, odontologia, Moysés seguiu o mesmo destino, isso em meados de 1942, após três dias e duas noites de viagem de trem. Os três passaram a morar em uma pensão, à Rua Marechal Deodoro, bem próximo onde este escriba também residiria anos depois.

Moysés, objeto principal desta modesta crônica, trabalhou como “amanuense” concursado da Prefeitura Municipal, oportunidade em que conheceu uma linda jovem, que “vestia uma blusa de manga curta verde que combinava com a cor dos seus olhos, muito bonitos e expressivos, cabelos vermelhos curtos, caprichosamente penteados”, como, mais tarde, descreveria em manuscrito dado à lume.

Formada em medicina, em 16 de dezembro de 1943, Hilda tornou-se renomada pediatra, casando-se com Moysés, ainda acadêmico de medicina, em 21 de janeiro de 1945. Dessa união advieram os filhos Sérgio, Renato e Denise, que lhes deram muitos netos, já tendo surgido o primeiro bisneto.

A vida de Moysés foi de constante luta, iniciando como funcionário público, depois ginecologista, até que um dia, premido pelo sogro, senhor Frischmann, teve que assumir atividade comercial, na tradicional “A Maravilha”, que logo se tornou “a maior e melhor casa do ramo no Paraná”.

Lembro-me que muitas vezes comprava roupas naquela loja, graças a boa vontade e generosidade do dr.. Moysés, que alargava os prazos de pagamento.

Depois, abandonada a medicina, Moysés e o sogro, com a ajuda do pranteado advogado Augusto Prolik, transformaram “A Maravilha” em “Frischmann Magazin S.A.”.

Muito mais poderia ser escrito sobre aquele que tinha e tem “a alegria de entender a vida”. O espaço, desafortunadamente, não permite…

Um ponto, todavia, há que ser realçado: o amor que une Moysés e sua Hilda. Bem por isso, não é demais transcrever a ode “O amor, a mútua dependência, a alegria”, escrita no enfeixamento do livro Aos Netos com carinho, quando Moysés, em 1995, foi eleito “Pai do Ano”, pelo nosso Rotary, verbis: “Quando dois jovens se conhecem, e nasce entre eles uma empatia, é muito provável que surja daí uma boa amizade ou um namoro. No nosso caso foi assim: uma boa amizade, um namoro e, na seqüência, uma paixão que acabou em noivado e casamento. Da paixão veio o amor, que permanece até hoje. Agora, após 50 anos de casados, sabemos tudo que somos para o outro. Dizem que só se conhece o companheiro numa longa jornada e num pequeno abrigo. Nosso conhecimento criou confiança e dependência. Hilda depende de mim e eu dependo dela. Não sabemos mais viver sozinhos. Os hábitos passam a ser os mesmos. Há um cuidado mútuo, e até exagerado, com a saúde. Um se preocupa quando o outro fica doente. Acredito que seja assim com todos os casais que atingem a nossa idade, se permanecem juntos uma vida inteira. Fazemos votos que nossos filhos e netos tenham uma longa vida de paz e amor e que nós, Hilda e eu, possamos ainda conviver com eles com saúde até chegar a nossa hora. Aqui dois sentimentos entram em conflito: a vontade de estar junto, de ter filhos e netos eternamente ao nosso lado, e a preocupação de não depender na velhice dos descendentes, de não ser um ônus muito pesado para nenhum deles. De todas as alegrias que conhecemos em nossas vidas, talvez a mais profunda seja a atual: a alegria de atender a vida ou, como disse o Drumond, de ter aprendido a soletrar o mundo.”

Este é Moysés Bronfmann, espírito sensível, querido companheiro rotariano, sempre solícito e gentil, a todos encantando.

Luís Renato Pedroso

é desembargador jubilado e presidente do Centro de Letras do Paraná.

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