A arte no propósito de resgatar a cidadania das pessoas com algum tipo de deficiência é o objetivo do cartunista Ricardo Ferraz que pretende conscientizar a sociedade dos seus direitos constitucionais. Com seus cartuns, Ferraz, que tem deficiência física, quer promover a sua plena participação e igualdade de direitos, rompendo as barreiras de ordens físicas e atitudinais. "A maioria dessas pessoas ainda não alcançou a sua cidadania. Vivem a margem da sociedade, segregados dos seus direitos constitucionais, vítimas da ignorância e do preconceito, enfrentando as barreiras arquitetônicas e humanas."
A abordagem artística da temática foi uma forma alternativa para uma reflexão profunda, como forma de sensibilizar a sociedade sobre a problemática e a luta pela plena inclusão social das pessoas com deficiência. "A exposição de fatos, certamente, levará a uma reflexão, questionamento e autocrítica. Na esperança de alcançarmos no novo milênio uma sociedade solidária e igualitária, temos convicção que as palavras preconceito e discriminação fiquem apenas no passado", afirma Ricardo Ferraz.
A exposição "Visão e Revisão, Conceito e Pré-Conceito" apresenta à comunidade, através de cartuns humorados, situações concretas da vida cotidiana, abordando criticamente a problemática das necessidades especiais, seus portadores e suas relações com a comunidade.
O autor:
Ricardo Ferraz, 52 anos, auto didata, teve pólio aos 5 (cinco) anos de idade, descobriu no desenho um ótimo "passa tempo" e nunca mais parou, "através da arte me integrei à sociedade".
Ferraz reside na cidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES, como servidor público municipal, ensina a arte do desenho para crianças e adolescentes de 8 (oito) a 18 (dezoito) anos e também para jovens infratores do Centro de Triagem e pacientes do Hospital Infantil da sua cidade.
Fundador da Associação Capixaba de pessoas com Deficiência, encontrou no desenho um canal de comunicação, através dos cartuns. Ferraz mostra à sociedade o dia-a-dia das pessoas portadoras de algum tipo de deficiência. "O que eu não conseguir expressar com palavras, o Cartum fala por si". Ele também costuma usar uma frase do saudoso jornalista Paulo Francis, para sintetizar suas proposta, "um Cartum vale milhares de palavras para um povo ao quem se nega as primeiras letras".
Exposição itinerante
Desde 1981, a exposição de cartuns já foi vista por milhares de pessoas em vários Estados do país e do mundo, em eventos nacionais e internacionais, em espaços culturais, universidades, e escolas secundárias. "As escolas têm um papel fundamental na formação de profissionais éticos. Não abordo a deficiência e sim cidadania e direitos humanos".
São quarenta trabalhos em papel cartão utilizando o manquim e lápis de cera, com medida de 23 x 33 centímetros – referência – www.cadetudo.com.br/ricardoferraz (clicar nos desenhos).
Para realizar a exposição na cidade
Para realizar uma mostra em sua cidade, a sugestão é que oficialize um convite com antecedência. Garantindo-lhe uma estrutura básica.
O artista, que não arcará com nenhuma despesa,exige a garantia da seguinte estrutura:
Passagens aéreas (ida x volta);
Hospedagem;
Alimentação;
Translado;
Pessoal de apoio (montagem);
Divulgação na mídia;
Ajuda de custo para despesas extras de R$ 1000,00 (mil reais)
Obs: US$ 267,00 (dólares) câmbio de 08 de abril de 2005.
CONTATO:
RICARDO FERRAZ
E-MAIL = ZECA.CDI@TERRA.COM.BR
FONE: (28) 3522-4614 – 9959-8632
Rua: Euclides Batista Gomes nº 11
Bairro Valão – Cachoeiro de Itapemirim
Espírito Santo – CEP: 29.309-705.
O difícil equilíbrio
Vera Moreira Salles vive o dilema de conciliar as limitações físicas com a mente e o coração em atividade máxima.
Foi na adolescência que Vera começou a sofrer por ser diferente. Até então não se importava muito com a deficiência e até gostava de ser protegida pela família ?Por volta dos 15, 16 anos, vendo as minhas irmãs indo aos bailinhos e namorando, me revoltei com a minha situação. Ficava me perguntando por que isso tinha que acontecer comigo?. O lado bom dessa revolta é que Vera se motivou a fazer exercício para melhorar seus movimentos e poder ir aos bailes. ?Eu enfaixava uma perna até ficar bem grossa e dizia que tinha sofrido um acidente muito grave. Um dia o garoto que eu gostava e sabia das minhas dificuldades quis dançar comigo.Eu perguntei ?você tem certeza?? e ele disse que sim, mas não sabia muito bem como fazer. Eu pedi então para ele me segurar bem firme junto dele. No meio do salão, o diretor do clube pediu para a gente se afastar, porque estávamos muito agarrados. A dança terminou ali e eu fiquei morrendo de vergonha?, conta Vera.
Os relacionamentos amorosos são os mais afetados pela síndrome da disfunção neurológica, não pelas necessidades especiais que ela provoca, mas pelo preconceito. ?O receio de se relacionar com deficientes vem muito da falta de conhecimento, principalmente sobre a vida sexual. As pessoas nos olham como se fôssemos assexuados, e até mesmo em congressos é difícil encontrar especialistas que abordem esse assunto?, reclama Vera, que já sofreu com a rejeição de alguns namorados, um deles também portador de deficiência motora. ?Depois de algum tempo, ele me disse que gostava muito de mim, mas, para casar, ele queria uma mulher normal.? Vera acabou se conformando, pois confessa que também sonha em se casar com um homem sem limitações físicas. ?Eu preciso conviver com alguém que possa me ajudar, pois há muita coisa que não consigo fazer sozinha. E, para falar a verdade, eu ainda sonho com um príncipe encantado.?
O homem ideal parecia ter chegado no ano retrasado, e não veio montado num cavalo branco, mas via internet. Vera conta que o computador é seu principal lazer, e conheceu o Carioca em um site para deficientes. ?Ele se apresentava como alguém sem preconceitos, que queria fazer amizades e dizia achar muito romântico passear empurrando a cadeira de rodas da namorada. Começamos a trocar mensagens e as afinidades logo apareceram. Ele insistia em me conhecer, mas eu relutava porque temia perder o encanto da nossa relação?. Na semana do seu aniversário, o Carioca ? que na verdade vivia no Mato Grosso do Sul ? chegou de surpresa. Segundo Vera, foram dias de pura felicidade para ela, mas que terminaram quando ele foi embora. ?Alguns dias depois recebi um e- mail em que ele dizia que não suportaria conviver com as minhas dificuldades e, que detestou ir comigo ao shopping e em restaurantes porque todo mundo ficava olhando. A realidade acabou com todo o romantismo.?
Enquanto o amor não acontece, Vera trabalha para reestruturar um site para deficientes físicos que ela criou, mas que saiu do ar por divergências com o provedor. ?Para compensar as limitações do meu corpo, a minha cabeça e o meu coração estão sempre em total atividade,? afirma Vera.