Uma receita de família que continua dando certo

A cidade cenográfica reconstitui um típico bairro de subúrbio carioca. Mas poderia ser qualquer bairro, de qualquer cidade do País. A família de Lineu e Nenê bem poderia ser uma das milhares de famílias que se reúne em frente à tevê nas noites de quinta – e que ajuda a dar para A Grande Família 40 generosos pontos de ibope. Em seu terceiro ano no ar, o programa – que seria inicialmente apenas um “remake” do seriado exibido na década de 70 – não só se firmou na programação da Globo como vem obtendo uma audiência crescente, com cinco pontos a mais que no ano passado.

“Família sempre rende assunto e existe uma identificação muito grande do telespectador com o programa. Ele se vê retratado na história”, explica o diretor Maurício Farias, acrescentando que quase toda casa tem uma mãe generosa, um jovem encostado, uma filha mimada, um cunhado agregado…

Para a receita caseira não desandar, porém, a produção toma seus cuidados. Como colocar, a cada episódio, um personagem diferente da família na berlinda e receber atores convidados para participações especiais. Foi assim, por sinal, que Andréa Beltrão começou, na pele da “turbinada” manicure e cabeleireira Marilda. Das participações esporádicas do ano passado, a atriz – casada com Maurício Farias – passou para o elenco fixo. “A Nenê precisava de uma amiga que não fosse a filha para conversar assuntos de mulher. Daí veio a idéia de ?efetivarmos? a Andréa”, explica Marieta Severo, enquanto ajeita os cachinhos que marcam o visual de Nenê.

Nos intervalos de gravação, Andréa Beltrão tenta ignorar o incômodo salto alto e se diverte com o figurino “perua” da personagem, que inclui grandes brincos e óculos escuros, além de uma bolsinha sempre com a mesma estampa da roupa. Como Marilda colocou silicone nos seios no primeiro episódio da temporada, a atriz também usa sutiã com enchimento para criar um efeito “airbag”. “Pode botar a mão, eu não me importo… Não é o meu mesmo!”, responde, aos risos, para a produtora, que tenta ajeitar o volume dentro do farto sutiã.

“Barraco”

Todos a postos, Maurício Farias grava a seqüência em que Marilda e Genoveva, vivida por Ana Rosa, “descem o barraco” no meio da rua. Tudo porque Seu Flô – de madeixas pintadas para parecer mais jovem – alimentou o mal-entendido de que estaria tendo um caso com a cabeleireira e despertou a fúria da namorada. Na cena, cerca de 40 figurantes fazem as vezes de moradores, aos gritos de “Dá-lhe, Marilda!”, “Aí, Genoveva!”, “Pega ela!”… O entusiasmo era tanto que os berros continuaram mesmo depois do “corta!”, comandado pelo diretor.

Apesar das piadas de gosto duvidoso de Pedro Cardoso -que parece querer encarnar em tempo integral o egocêntrico Agostinho -, o clima “família” da gravação é evidente. A equipe é praticamente a mesma que estreou o programa há três anos. Até alguns figurantes se orgulham de ser “prata da casa”, de tanto que participam das gravações. Além disso, os amigos Marieta e Marcos Nanini cultivam um “casamento profissional” de 30 anos – quando contracenaram pela primeira vez, numa peça de teatro. Depois, se reencontraram na televisão, em “A Comédia da Vida Privada” e formaram o casal real Carlota e Dom João VI em Carlota Joaquina, A Princesa do Brasil, de Carla Camurati, entre outros trabalhos. “Fui chamado para fazer apenas 16 episódios de A Grande Família, em homenagem ao Vianinha. Tudo de lá pra cá foi uma grata surpresa. Não imaginava que chegaríamos tão longe”, assume Marco Nanini.

Para a “surpresa” de Nanini, Lúcio Mauro Filho tem uma explicação. O intérprete do divertido Tuco acredita que, na época em que o “remake” de A Grande Família estreou, todas as atenções estavam voltadas para o inédito Os Normais. “Ficamos na sombra e isso, de certa forma, nos poupou. Aí fomos melhorando o programa, engrossando o caldo… Crescemos na hora e na medida certa”, teoriza, com ares de bom “gourmet”.

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