Uma estrela que renasce

Quando resolveu aceitar o convite de Manoel Carlos para fazer a “marchand” Heloísa de “Mulheres Apaixonadas”, Giulia Gam não tinha idéia do que estava por vir. Como de hábito, o autor fez mistério sobre a trajetória da personagem. Limitou-se a dizer que Heloísa era irmã de Helena e mulher de Sérgio, interpretados por Christiane Torloni e Marcello Antony. Mesmo dispondo de tão poucos elementos para compor a personagem, a atriz topou na hora. Afinal, ela não fazia uma novela, do início ao fim, desde “Fera Ferida”, de 94. “Quando você está muito tempo longe, sente medo de não conseguir voltar. Felizmente, não poderia ter voltado em melhor hora. É um renascimento. É como se estivesse trocando de casca aos 36 anos”, festeja.

O temperamento destrutivo de Heloísa surpreendeu tanto a atriz que ela resolveu assistir a uma das reuniões do Mada, sigla do grupo Mulheres Que Amam Demais Anônimas. Giulia temia que sua atuação como “dependente afetiva” resvalasse para a caricatura e não produzisse o efeito desejado. Na verdade, não só ela, mas dezenas de pessoas nunca tinham ouvido falar do Mada. Desde que a novela mencionou sua existência pela primeira vez, o número de mulheres que freqüentam as sessões do grupo no Rio de Janeiro saltou de 25 para 100. “Várias delas me disseram que procuraram o Mada por causa da novela. Fiquei comovida”, confessa.

Orgulhosa pela boa repercussão de sua personagem, Giulia acredita que a intempestiva Heloísa pode inaugurar uma nova fase em sua carreira, iniciada em 1987 com a Jocasta da primeira fase de “Mandala”, de Dias Gomes. A alegria por estar de volta às novelas só não é maior do que a sentida por ter conquistado, em janeiro deste ano, a guarda definitiva do filho Théo, de cinco anos, disputada na Justiça com o ex-marido, o jornalista Pedro Bial.

P – Você imaginava que pudesse voltar a fazer novelas com uma personagem tão marcante como a Heloísa?

R – Sinceramente, não. Imaginava que fosse fazer um trabalho legal, dentro de uma novela bacana do Manoel Carlos, etc. e tal. Mas não me passava pela cabeça que a repercussão teria essa dimensão. É incrível que uma novela ainda mexa tanto com as pessoas… Para falar a verdade, estava insegura. Quando você está longe, acredita que nunca mais vai conseguir voltar. Hoje, sinto como se eu fosse uma outra atriz. Não tenho mais a cara de menina que tinha em “Que Rei Sou Eu?” ou “Fera Ferida”. Hoje, me sinto bem mais madura.

P – Mas você sempre foi bissexta na tevê. Foi difícil o Manoel Carlos convencê-la a fazer “Mulheres Apaixonadas”?

R – Há tempos, eu não fazia televisão. Quando o Manoel Carlos me convidou, ele disse que, por um lado, eu tinha a vantagem de estar sendo quase relançada na tevê. Por isso mesmo, eu guardava um certo frescor, uma certa novidade… Por outro, eu já possuía o “know-how” de uma veterana. É legal você poder fazer um papel desses aos 36 anos. E o mais bacana é que eu não tinha qualquer garantia de que o papel seria legal ou que iria crescer desse jeito. Sabia apenas que a Heloísa era uma das irmãs da Helena e que ela teria ciúmes do marido…

P – Você não sentia saudades de fazer televisão?

R – Olha, fazer uma novela como essa é uma maravilha. Apesar da correria, não estou cansada. Só tenho medo de não dar conta do recado. Quando você faz novela, não sobra lá muito tempo para fazer outras coisas… Mas, graças a Deus, nunca fiz uma novela que tivesse dado errado. Fazer uma novela que não cria empatia no público deve ser muito difícil.

P – Gravar cenas de forte intensidade dramática não é especialmente desgastante?

R – Todos sabem que passei por uma separação traumática, enfrentei um processo judicial, enfim, isso foi público e notório. É óbvio que o público pode imaginar que uso coisas da minha história para, sei lá, exorcizar meus fantasmas. Mas, tirando o trauma da separação, minha história não tem nada a ver com a da Heloísa. Graças a Deus, está tudo muito bem-resolvido dentro de mim. Graças a Deus, consigo manter um distanciamento saudável na hora de gravar.

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