Uma crônica de NY na batida do jazz

Quem for assistir a Igual a Tudo na Vida motivado apenas pelo trailer pode ter uma surpresa. A publicidade se restringe a mostrar Jerry Falk (Jason Biggs) como o homem apaixonado e cego pela volúpia em forma de mulher, Amanda (Christina Ricci). Mas não se deixe enganar, o diretor e roteirista Woody Allen está em cena para garantir o selo de qualidade de sua obra. À margem da história, ele é a ponta observadora de um romance inspirado em outros títulos do cineasta. É neste ponto que muitos podem fechar a cara e perder a oportunidade de se divertir com um filme inteligente.

O velho e ótimo Woody Allen dessa vez é uma espécie de grilo falante de um jovem comediante que está de quatro por uma aspirante a atriz. A moça em questão riscou as palavras fidelidade e equilíbrio do seu caderninho. Já o rapaz é o bom moço com um futuro brilhante, agenciado por um empresário com a ética de malandro dos trópicos e orientado por um analista mudo, passivo e caça-níqueis. Resumindo, quase um clone moderno do Woody Allen de velhos e bons filmes.

O diretor entra nas cenas como conselheiro do escritor. Faz o papel do analista que todos os encucados sonham em ter. Ou seja, é objetivo e tem as soluções para os problemas do bolso e do coração. Pragmático, ele ensina a reagir a todas ações. É hilária a cena do troco que o franzino Allen dá a dois brutamontes que roubam sua vaga no meio-fio.

O excelente diretor de atores parece que pediu uma interpretação mais excessiva da boa atriz Christina Ricci. Amanda transborda em gestos e discursos pouco naturais. No outro lado, Biggs dá o recado com o judeu perdido entre as curvas da amada em greve e lábia do empresário explorador. São personagens que vivem (acima do tom) situações irreais do cotidiano íntimo dos nova-iorquinos.

Exigir uma obra-prima de diretor americano a cada primavera faz lembrar aqueles que criticam o samba por ser sempre a mesma coisa. Que assim seja. Na batida do jazz, Allen segue fazendo suas crônicas com qualidade bem acima da média. Por isso, não se satisfaça apenas com o trailer.

Voltar ao topo