Stefano Poda é um artista da ópera. Nasceu na Itália, em 1973, e já realizou mais de 100 produções pelo mundo. Distingue-se por buscar o que chama de “unidade estética e conceitual” em suas obras, o que lhe faz assumir todas as funções na produção de seus espetáculos: direção, coreografia, iluminação, cenografia e figurino. Em Titã, criação sua para o Balé da Cidade de São Paulo, que pode ser vista no Teatro Municipal até esta quinta, 15, foi exatamente isso que se deu.

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No programa de Titã, Poda diz que teve “acesso à essência da liberdade criativa” por não precisar seguir um libreto ou um texto, e que o projeto se desenrolou “de forma natural, como uma planta”. Parece contente com a condição de trabalho que encontrou: “No restante do mundo, o que tenho são horários, condições e estruturas. Aqui, tenho liberdade”. E também declarou: “Há uma vinculação absoluta entre a expressão cênica, que não gostaria de chamar de coreográfica, pois pode ser limitada na intenção da percepção, e a música”.

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Essa intenção está descrita no programa, no qual exibe um detalhe da partitura gráfica que elaborou, junto com seu assistente, Paolo Giani Cei, na qual cada compasso é impresso com uma imagem do gesto e da poética que lhe correspondem. Em cena, isso pode ser conferido, pois não há momento sonoro desacompanhado de alguma ação cênica.

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O espaço é trabalhado como um lugar vazio a ser preenchido por bailarinos se agrupando, depois se desgarrando e, mais adiante, voltando a se juntar. O elenco, vestido com os já tradicionais ternos escuros unissex, dança sobre “dunas” de arroz, debaixo de chuva. São muitos os efeitos de iluminação empregados para agarrar a atenção de quem assiste. O que gostaria de parecer casualmente desordenado, mostra-se disciplinadamente bagunçado. O limite do palatável circunscreve tudo com muita segurança. Uma pitada de Walking Dead no jeito de mexer com grupos do Jean Pierre Perrault dos anos 1980, mas sem a sua densidade.

Este Titã parece indeciso. Fica refém, sobretudo, de uma proposta de dramatização pintada pelos claros e escuros da iluminação e de movimentos mais curtos, que deveriam dar a forma para aqueles corpos e não o contrário (os corpos os representam). Desta vez, mesmo entregando-se à proposta com toda a competência que sempre o caracteriza, o excelente elenco do Balé da Cidade não consegue abandonar um “jeito bailarino” de impostar a movimentação que realiza. Muito provavelmente, porque o projeto não lhe veste com a “naturalidade de uma planta”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.