Um desconhecido Pixinguinha

Depois de dois anos de gravação, o CD As Inéditas de Pixinguinha chega ao mercado fonográfico pela Sony, que em 1997 encarregou Jayme Vignolli e Luiz Flávio Alcofra, músicos do grupo Água de Moringa, de pesquisar, analisar e descobrir se 40 partituras do mestre do choro eram realmente inéditas.

As partituras haviam sido descobertas pela família de Pixinguinha e enviadas à gravadora. “Descobrimos que algumas já haviam sido gravadas, com outros nomes”, conta Jayme. “E algumas, embora estivessem com a caligrafia do Pixinguinha, não eram músicas dele, mas arranjos dele para músicas alheias, como uma peça de Anacleto de Medeiros”. Concluíram, então, que as inéditas eram 29 das quais o grupo selecionou 13 para gravar.

O que chega agora ao público é um belíssimo trabalho, com valsas, maxixes e até um baião, faceta pouco conhecida do compositor. Além disso há três lundus-africanos, um gênero que Pixinguinha explorou bastante, como nas músicas Yaô e Benguelê, gravadas por Clementina de Jesus, entre outros, e que são conhecidas até hoje. Esses lundus-africanos – Kalu, Maria Conga e No Terreiro de Alibibi – são as únicas músicas cantadas do disco e o Água de Moringa contou com as presenças especiais de Martinho da Vila. Nei Lopes e Monarco para interpretá-las.

Formado por Rui Alvim (clarinete e clarone), Marcílio Lopes (bandolim e violão tenor), Jayme Vignoli (cavaquinho), Josimar Carneiro (violão de sete cordas), Luiz Flávio Alcofra (violão de seis cordas) e André Boxexa (percussão), o conjunto gravou três discos: o primeiro, Água de Moringa, em 94, indicado para o Prêmio Sharp como melhor grupo instrumental e o segundo, Saracoteando, em 98, que recebeu dois Prêmio Sharp: melhor grupo instrumental e melhor arranjador (Josimar Carneiro).

Em seus treze anos de atividade o Água de Moringa vem se destacando pela versatilidade. Tendo como filosofia o mesmo “espírito chorão” dos músicos do final do século XIX, que criaram uma nova linguagem a partir da tentativa de tocar as músicas então vindas da Europa, o grupo procura sempre revisitar compositores tradicionais como também experimentar os autores de nossa época.

Faixa a faixa

Viva João da Baiana – Homenagem de Pixinguinha ao amigo compositor, é um maxixe com a assinatura típica do mestre trazendo no violão de sete cordas o contraponto original do autor. Participação oficial de Eliseu Moreira Costa.

Machuca Mané – Típico “choro de botequim” gravado à maneira tradicional com clarinete e bandolim alternando solos e destaque para o final onde todos solam.

Valsa Triste – Arranjo que se utiliza de harmonia sofisticada e contraponto com um instrumento raramente usado por conjuntos de choro, o bells.

No Terreiro de Alibibi (com Gastão Viana) – Participação especial de Nei Lopes – um dos grandes expoentes do samba e profundo estudioso da cultura afro-brasileira. A faixa é reforçada pela percussão de Zero (congas, pandeiro e caixeta) e Gordinho (surdo) e pelo coro de Christina Buarque, Luciane Menezes, Ary Bispo e Ronaldo Barcelos.

Eu Te Quero – Choro-polca com destaque para os contracantos dos violões em pizzicato na primeira parte e para o diálogo entre clarinete, bandolim e cavaquinho na segunda parte.

Dengo Dengo – Choro-maxixe de caráter festivo onde os violões também atuam como solista e a melodia se repete em tonalidades diferentes.

Espere Um Pouco – Mais um choro ao bom estilo tradicional com a participação de Humberto Araújo ao sax tenor executando contraponto.

Os Que Sofrem – Valsa que abre com violão-solo ao qual se incorporam gradativamente o clarinete e o restante do grupo.

Kalu (com Gastão Viana) – Lundú-africano com a participação do inconfundível Martinho da Vila, Zero e Gordinho (percussão) e coro.

Vamos Lá – Um baião, faceta pouco conhecida do compositor, em arranjo que traz grande massa sonora com clarinetes, clarone, bandolim e violão tenor, além da participação de Cristóvão Bastos ao piano.

Teu Nome – Valsa que abre com todo o grupo em uma introdução caracterizada por harmonia complexa dando voz ao bandolim acompanhado dos violões.

Meu Sabiá – Maxixe cujo arranjo traz como grande novidade uma seção “à cubana” onde os instrumentos se sobrepõem com destaque para a marimba.

Maria Conga (com Gastão Viana) – Outro lundu-africano com a nobre participação de Monarco, integrante da Velha Guarda da Portela, Zero e Gordinho (percussionistas) e coro.

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