Tônica engajada da 31ª Bienal de SP é discutida

O grande Mapa desenhado pelo chinês Qiu Zhijie é a primeira obra que os visitantes da 31ª Bienal de São Paulo veem depois das catracas de entrada da exposição. Não por tornar-se especialista em cartografias, um dos ricos territórios de suas criações, desde a década de 1970, mas ser uma das mais respeitadas vozes da arte brasileira, Anna Bella Geiger, indagada sobre esta edição do evento, escolhe justamente o trabalho de Qiu Zhijie como simbólico. “Está havendo uma crise enorme no contemporâneo”, afirma a carioca, de 81 anos, diante do monumental painel traçado sobre a parede.

“Recorrência de clichês”, “desinformação”, “falta de conhecimento estético” são algumas das características que Anna Bella Geiger enumera ao observar o mapa imaginário, utópico e, em algumas passagens, antropomórfico do chinês. “Será que a história da arte não vale mais para nada?”, pergunta a também professora, de forma geral, ao pensar nesta 31.ª Bienal, que termina no domingo, 7. Apesar de ser uma edição cuja tônica e ética se dão em torno de um clima crítico sobre a sociedade e sobre o momento atual, Anna Bella identifica pouca elaboração na poiesis da maioria dos participantes da mostra. “Parece uma deriva do artista.” Nem mesmo panfletários chegam a ser os trabalhos da exposição, conclui.

“Há uma estética forte nesta Bienal, só não é a estética moderna que todos esperavam”, afirma o escocês Charles Esche, curador da 31.ª Bienal de São Paulo. “Estética não é sobre ser bom ou ruim, mas como as linguagens visuais são usadas”, ele continua. “É uma Bienal engajada socialmente, diferente de ser politicamente engajada. Na social, a arte é incluída, na política, é separada da economia e cultura”, diz.

Esche, assim, enumera o que considera pontos bem e mal sucedidos do projeto que desenvolveu com time curatorial de maioria estrangeira. “Fiquei feliz de termos trazido a questão indígena e tentado construir um argumento que trouxe a religião”, analisa o curador. “Do lado negativo, acho que poderíamos ter trazido a experiência visual de uma maneira melhor, assim como ter trabalhado o programa educativo”, afirma Esche, que vai ser responsável pela Bienal de Jacarta de 2015, na Indonésia.

“A Bienal de São Paulo está inserida num contexto muito complexo em que a arte contemporânea não faz parte da grande maioria da população e neste sentido, senti falta de legendas que pudessem contextualizar as pesquisas dos artistas”, afirma a curadora independente Cristiana Tejo. Para o diretor da Coleção Patricia Phelps de Cisneros, Gabriel Pérez-Barreiro, a precariedade da mediação com o público nesta Bienal foi “uma irresponsabilidade”.

Simplificações

Do lado positivo, Barreiro, curador-geral da 6ª Bienal do Mercosul em Porto Alegre, em 2007, analisa que a edição do evento se apresenta como uma “exposição mais longe possível do mercado de arte”.

Entretanto, sua grande crítica está relacionada à baixa qualidade da maioria das obras da edição, “não que sejam feias, mas pobres, com simplificações de questões e conteúdos”. “É também uma exposição de difícil leitura no contexto brasileiro. O Brasil é um país que tem uma contribuição riquíssima em arte e política e não vi muito diálogo possível com as práticas locais, o que foi uma surpresa.”

“Gostei de vários aspectos desta edição, como a metodologia de trabalho (mais colaborativa e processual), o número mais enxuto de artistas participantes e várias questões importantes a partir de uma perspectiva descolonizada abordadas em muitos trabalhos (a exemplo das questões indígenas, religiosas, de ordem sexual, alternativas educacionais, etc.)”, continua Cristiana Tejo. A expografia assinada pelo arquiteto israelense Oren Sagiv também foi elogiada por ela e pelo diretor da Cisneros.

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