Tom Waits lança 1º CD de estúdio em 7 anos

As canções estão mais curtas, mas as bordoadas parecem mais doídas. Faz algum sentido? “Todo mundo sabe que sombrinhas custam mais quando chove”, parece explicar Tom Waits em “Talking at the Same Time”, música de seu novíssimo álbum “Bad as Me”. O disco foi disposto na internet anteontem, no site dele (www.badasme.com). Havia 5 anos que Tom Waits não lançava algo (o último foi o álbum triplo “Orphans: Brawlers, Brawlers & Bastards”, de 2006). E tinha 7 anos que ele não fazia um estrito disco de estúdio – o mais recente fora “Real Gone”, de 2004.

Tom Waits não canta as coisas apenas para fazer número. Geralmente não usa muitos recursos cênicos: há um bar, alguns outsiders, uma garrafa quase vazia, uma iluminação deficiente, uma garota com uma história tatuada na carne, uma testemunha muda, uns trocados que não pagam o próximo drinque.

É inesquecível a cena em que Rudy, seu personagem no filme “Ironweed”, de Hector Babenco, canta “Big Rock Candy Mountain”, uma canção da grande Depressão popularizada por Roosevelt durante o New Deal. Rudy é um homeless, há uma mistura de carinho e ironia extremada em sua interpretação alcoólica.

Mais uma vez, Waits preenche um trabalho com essa sensação de humanidade sob a devastação. “Se todos formos embora/Talvez as coisas melhorem em Chicago/Deixar tudo que nunca conhecemos/Por um lugar que nunca vimos”, ele canta, na primeira faixa do disco, “Chicago”, sob saraivada de metais.

Entre síncopes de revolta e ternura, esse mineiro da última centelha de humanidade segue escavando. A sanfona melancólica de Augie Meyers vibra em “Pay Me”, clássica balada de fracasso crônico de Tom, como ele fazia nos anos 1970. “Todas as estradas levam ao fim do mundo”.

Ouvir Tom é “como combinar o cabelo com a estrada”, em suas próprias palavras. “Bad as Me” é menos cru do que de costume, os arranjos estão muito caprichados, o que nem combina muito com Tom. Há diversos convidados estrelados também. Charlie Musselwhite toca gaita em cinco faixas, e Flea (do Red Hot Chili Peppers) toca baixo em outras maravilhas, como a furiosamente pacifista “Hell Broke Luce”. Clint Maedgen toca saxofone e Ben Jaffe trombone e clarineta. Mas o convidado mais inesperado é Keith Richards, dos Rolling Stones. Richards toca guitarra e canta em “The Last Leaf” e “Satisfied”.

Há ainda baladas que parecem surgir de uma vontade de desaparição, como “Face to the Highway” e “Raised Right Men”. Há um rock’n’roll trôpego, “Get Lost”, que reconecta Tom Waits com seus primeiros álbuns, como “Closing Time” (1973). E o gospel “New Year’s Eve”, cuja letra revitaliza o apuro de cronista beatnik de Tom Waits. “Estava partindo de manhã com Charles para Las Vegas/E não tinha planos de retornar/Tinha só algumas coisas/Duzentos dólares/E meus discos num saco de papel de padaria”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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