Talvez seja mera coincidência, mas três produções com temas de Shakespeare estão em cartaz em Londres ao mesmo tempo; Jude Law vive Henrique V; David Tenant (famoso Doutor Who) interpreta Ricardo II e Tom Hiddleston, o vilão Loki dos filmes Thor, tem chamado a atenção como Coriolano no pequenino teatro Donmar Warehouse.

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Coriolano é o vilão menos adaptado de Shakespeare. A última adaptação foi no filme dirigido e estrelado por Ralph Fiennes em 2011. Há muitas razões que fazem desta adaptação excelente, e a principal vem sob o nome de Tom Hiddleston, apesar de ser uma escalação fora do comum – normalmente, o poderoso general teria de ser interpretado por um ator mais velho, para transmitir o tema de “experiência de vida” da história.

Uma das estrelas de maior ascensão no momento, o londrino de 32 anos é um ator de treinamento clássico. Ele já viveu Otelo e Cymbeline nos palcos, dois importantes personagens de Shakespeare, e recentemente admitiu que Loki, seu vilão na adaptação dos quadrinhos de Thor, foi também baseado nos personagens do escritor.

Muitos dos diálogos de Hiddleston são difíceis de engolir. O pequeno palco do teatro Donmar, no bairro de Covent Garden, é extensivamente utilizado, sendo coberto por grafite, cinzas, sangue, água e pétalas em momentos principais. Esta é uma produção pequena, mas super bem feita. Hiddleston está absolutamente magnético, conseguindo capturar os dois lados da difícil personalidade de Coriolano.

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Em uma das passagens mais comentadas, Hiddleston, sem camisa, lava o sangue e a sujeira pós batalha debaixo de um chuveiro – cena que poderia ser banal, mas que graças ao ator, transmite um momento de dor visceral. Suas feridas tornam a água vermelha de sangue.

O Coriolano de Hiddleston é uma figura carismática de um general romano: um homem orgulhoso, mas não muito admirável, que desdenhou dos romanos que ajudou a proteger após tantos anos. Coriolano não é o maior herói trágico entre os já criados por Shakespeare: ele não apresenta grandes monólogos como os de Hamlet ou Macbeth, e não é particularmente autorreflexivo. Ele é um soldado que ganhou o nome após conquistar, praticamente sozinho, a cidade de Corioles. Sua tragédia é deixar a mesma teimosia e orgulho que o tornam um herói de guerra impedi-lo de se tornar um político. Em Roma, onde ele não consegue conquistar a plebe, ele acaba expulso como traidor. É crédito do ator criar um Coriolano desagradável.

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Hiddleston é capaz de mudar da comédia à raiva à tristeza em um estalo de dedos, conseguindo expressar as complicadas relações do personagem com facilidade.

A atmosfera no auditório do teatro Donmar é excitante e se compara com o clima de um show de rock. Desde que o ator britânico se apresentou neste pequeno palco pela primeira vez, há cinco anos, ele se tornou uma estrela de renome internacional. Todas as noites, após cada apresentação, inúmeros fãs o aguardam na porta do teatro à espera de autógrafos, distribuídos prontamente a cada um deles.

Há, no momento, uma histeria em relação ao ator britânico, que é sensação também na internet. Quando Hiddleston fez uma aparição surpresa no evento ComicCon em San Diego, ano passado, fãs histéricos chegaram a se ajoelhar em sua adoração. Atualmente, há rumores de que seu personagem Loki possa ganhar franquia própria e até Chris Hemsworth, estrela dos filmes Thor, disse que gostaria de fazer uma aparição.

O Coriolano de Tom Hiddleston é uma aula de atuação. Por duas horas e meia, ele comanda o palco e o público com maestria, deixando a audiência em absoluto silêncio. A procura por ingressos, que se esgotaram em pouquíssimas horas, fez o teatro decidir transmitir a peça através de cinemas espalhados pela América e Europa no fim do mês passado, levantando a discussão sobre o modelo de transmissão de outras produções em temporadas futuras.

Embora alguns toques pareçam ser desnecessários – a alta música eletrônica tocada nas trocas de cena por exemplo -, essa é uma produção magnífica que confirma Tom Hiddleston como um dos melhores atores da atualidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.