Terje Mikkelsen surpreende na abertura da temporada 2015 do Mozarteum

Havia muita expectativa em relação aos concertos da Orquestra Sinfônica Estatal Russa que abriram na terça, 14, na Sala São Paulo a temporada 2015 do Mozarteum Brasileiro por causa de seu diretor artístico, Vladimir Jurowski, de 43 anos, um dos “young lions” da regência internacional, também titular da Filarmônica de Londres. Jurowski cancelou há pouco mais de um mês sua vinda a São Paulo. Em seu lugar, entrou o norueguês Terje Mikkelsen.

No final das contas, Mikkelsen foi uma grata surpresa. Com seu visual à Brahms, sobretudo quando contemplado de costas caminhando para os bastidores, ele usou um dos truques mais repisados por regentes para arrancar aplausos da plateia: acelerar os andamentos. Em geral, costuma-se adotar o procedimento quando a obra é muito conhecida. Aumenta a voltagem do virtuosismo, provocando espantos no público. O recurso só funcionou porque os músicos russos são de fato ótimos. Principalmente as cordas – sem falar nas madeiras e trompas, muito exigidas.

Outro motivo de preocupação era o repertório do concerto. A pouco conhecida e bem-comportada “Rapsódia Norueguesa n.º 1”, do compositor Johan Halvorsen (1864- 1935), caminha nos trilhos de Grieg e mergulha fundo nas melodias populares.

O “Concerto para Violoncelo e Orquestra”, de Dvorák, peça mais consistente da noite, recebeu leitura envolvente. O solista russo Alexander Buzlov, de 31 anos, sabe tudo do instrumento; superou os momentos tecnicamente difíceis e injetou emoção no Finale diferente, um Allegro moderato que vai morrendo. Uma solução afetiva de Dvorák, que relembrou ali sua cunhada Josefina, paixão oculta por décadas, que acabara de morrer. Mikkelsen rege de modo a provocar empatia com o público. E esta é, afinal, uma das funções do maestro.

Reservou, porém, sua porção pop para a segunda parte (Mikkelsen é parceiro de Keith Emerson, o roqueiro “sinfônico” integrante do célebre grupo britânico Emerson, Lake & Palmer). Para o bem e para o mal. O grande erro de repertório foi a inclusão da suíte de “A Bela Adormecida”, de Tchaikovsky, em cinco movimentos, concluindo com a Valsa famosa, ideal para extras em concertos sinfônicos, jamais para integrar o programa.

O acerto foi a regência empenhada e competente de Mikkelsen para a abertura sinfônica, na verdade poema sinfônico, “Romeu e Julieta”, de Tchaikovsky. Esta, sim, é uma das obras sinfônicas de beleza mais saturada entre as do maravilhoso melodista e orquestrador russo. O modo como Tchaikovsky conta em sons a trágica história de Shakespeare em cerca de 20 minutos é miraculosa. No trecho culminante do poema, os temas do amor e da ternura são levados pelas cordas, que se elevam até a dissolução, como num delicado fogo de artifício. Um prodígio de invenção copiado milhares de vezes pelos compositores de trilhas sonoras em Hollywood. Cordas ótimas, orquestra alerta e afiada o suficiente para reproduzir, sem erros, as acelerações um pouco demasiadas de Mikkelsen. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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