Temporada de Bienal e livros a granel por aí

Nesse período de Bienal do Livro de São Paulo, são várias as novidades neste setor. Embora o mercado editorial brasileiro esteja passando por um período de recessão – segundo a Câmara Brasileira do Livro, nos últimos 5 anos o número de lançamentos anuais caiu de 49 mil para 32 mil no ano passado -, o que mais se estranha é a quantidade de livros de autores frágeis e a gama de ofertas editoriais de baixa qualidade.

Esta semana chegaram à redação algumas publicações. Um dia Daqueles, por exemplo, é uma edição de bolso do australiano Bradley Trevor Grieve. O livro é uma ode ao niilismo temático e o autor parece mais com um discípulo alternativo de Paulo Coelho – um monte de frases inócuas e insossas, maquiadas com fotografias típicas de internet. O povo gosta disso, afinal ele vendeu milhões. Mas como se diz por aí, o povo é jeca e acaba comprando qualquer coisa.

Um outro livro (?), bem, uma coletânea de contos de uma página cada, também apareceu por aqui: 64, da jornalista Fernanda Pompeu. A idéia é boa e depois de 40 anos da tal revolução militar, seria até apropriada. Seria, porque as 72 páginas de contos mostram um “quase”. Quase um livro, quase um conto, quase uma revelação, quase interessante. A autora procurou contar em poucas palavras o que ela e outras crianças sentiram quando estourou a tal da revolução. A obra abusou e ficou simplista, deixou a desejar, não se tornou história para crianças, tampouco para adultos. Foi prematura. Se é o livro de estréia da Fernanda, poderia ser um tico mais trabalhado, mais esclarecido. Quem são esses que sofreram assim no advento da ditadura? Parece mais texto voltado para o umbigo. Ou contos para os amigos e conhecidos ou ainda conhecedores dos detalhes da revolução. Poucos passaram por isso. O release de apresentação do livro diz pretensiosamente “… suas subjetividades são desnudadas em confronto com a realidade política”. De novo, como se diz por aí, fala sério. Nada é revelado nesses contos vazios, nem subjetividades tampouco realidades – o livro parece mais blog de adolescentes atuais.

Todavia, se o Bradley e suas frases venderam milhões, quem sabe?

Por essas e outras, editoras mais perspicazes aproveitam essa onda de baixa qualidade e relançam obras de autores consagrados. A Editora Nova Fronteira foi esperta e entrega aos livreiros quatro sucessos do belga George Simenon e seu Comissário Maigret, agora em formato pocket book. Para quem não conhece, o inspetor Jules Maigret é um dos mais famosos personagens da literatura policial do século XX, ao lado de Sherlock Holmes e Hercule Poirot. Embora ele tenha sido criado em 1929, Maigret ficou famoso no Brasil justamente nos anos 60 e 70, quando se tornou um cult nas universidades. Sim, para quem tem dúvidas, os “politicamente alienados” da época (alheios á ditadura dos milicos) liam trivialidades, contos policiais, e também liam Pasquim, Marcuse e Rosa de Luxemburgo.

Se os autores e editores atuais não correspondem, por que não ler os clássicos do século passado? Simenon escreveu mais de 400 livros e seus thrillers psicológicos venderam nada mais nada menos do que 500 milhões de exemplares. Muitos escritores eram seus admiradores, como o francês André Gide, que afirmou: “Simenon é um grande romancista, o maior e mais verdadeiro da literatura francesa contemporânea”.

Serviço

Um dia Daqueles – Bradley Greive – Editora Sextante 64 – Fernanda Pompeu -Editora AM 3. O Homem do Banco; O Caso Saint Fiacre; O Cão Amarelo; Morte na Alta Sociedade – George Simenon – Editora Nova Fronteira.

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