Surpresa da maturidade

Sem fazer novelas desde Como Uma Onda, exibida na Globo em 2004, Antônio Grassi estava com saudades de encarnar um personagem na tevê. Não à toa, aceitou sem demora o convite do amigo e diretor Ignácio Coqueiro para viver o vilão Tadeu Dias, em Paixões Proibidas – atual novela das dez da Band. Aos 52 anos, o ator só precisou conciliar as gravações com os trabalhos à frente da presidência da Funarte – Fundação Nacional de Artes, órgão vinculado ao Ministério da Cultura – cargo que ocupou desde 2003 e que deixou de forma abrupta e inesperada há algumas semanas. ?O mais importante é saber que saio depois de ter feito um trabalho sério e importante?, consola-se. Sua veia política, aliás, vem dos tempos de grêmio estudantil, época em que o ator de Belo Horizonte fazia teatro amador. O seu envolvimento com política na juventude era tão grande que até aparecer na minissérie Romeu e Julieta, exibida na Globo em 1980, Grassi era avesso à televisão e tinha preconceito em relação aos atores de novelas. ?Passei muitos anos jurando que nunca faria tevê?, confessa.

P – Por que o preconceito com os atores de tevê na juventude?

R – Na minha época de estudante de teatro existia muito preconceito. Grande parte dos estudantes achavam que os atores de tevê eram medíocres em termos de inteligência. Mas depois fui amadurecendo, perdendo esse ímpeto juvenil de achar que está tudo errado. Aí percebi que as coisas são bem mais amplas. Não só eu, mas uma geração inteira. Mas nós adorávamos os atores que não faziam tevê, como o Paulo Autran. Dizíamos: ele não se vende!

P – E a tevê de hoje, você acha que provoca uma visão distorcida da carreira?

R – Sim, porque a televisão é um produto comercial, ela vende imagem. Mas cabe a cada ator, como artista, administrar a sua profissão e a sua inserção nisso. Hoje não sou radical. É bom que o ator garanta seu pé-de-meia. Eu mesmo já fiz vários comerciais. Mas o ator pode pegar a grana e investir na carreira, montar uma peça de teatro. O errado é colocar isso como prioridade, a meta da sua carreira.

P – O que mais o seduziu nesse projeto da Band?

R – Primeiro, a oportunidade de abrir uma nova possibilidade de trabalho em outro canal – o que acho muito saudável. Também temos em Paixões Proibidas o intercâmbio de atores, que é muito importante. O público português recebe muito bem as novelas brasileiras. Outro ponto forte é o texto do Aimar Labaki – um dos expoentes da literatura contemporânea no Brasil. E, por fim, me seduzi pela história quando li sobre o Tadeu, porque é um personagem que dá uma possibilidade legal de se divertir. É o grande barato do ator.

P – Na novela, seu personagem se apresenta como um homem gentil e que, ao mesmo tempo, é o vilão da história. Como você o construiu?

R – Logo que li as primeiras cenas, tentei valorizar esse lado da humanidade do Tadeu, do amor pela filha, da fragilidade em algumas coisas, da leveza. É justamente isso que torna a sua maldade mais violenta. Percebo isso, por exemplo, quando ele fala coisas terríveis para filha com muita doçura. Isso traduz a sua humanidade.

P – Papel de época requer uma preparação maior do ator?

R – É um trabalho mais interessante, porque quando o ator faz uma novela passada nos dias de hoje, o esforço é para não interpretar, para não ser o ator fazendo um papel. Em época, a relação entre ambiente, figurino e cenário puxa o profissional para construção de uma identidade fora do seu cotidiano. E o ator não pode fingir que isso é normal, porque não é. Diante disso, ele pode brincar mais, sair dos seus hábitos para ir até os do personagem.

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