Superficialidades humanas

Um teatro cuja força está nas palavras e na interpretação das mesmas pelos atores. É o que propõe o paulista Teatro de Narradores em Nossa Casa de Boneca, versão para o texto de Henrik Ibsen (1828-1906) que faz parte da Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba – Edição 2006, com apresentações nos dias 24, 25 e 26 de março, às 20h30, no Guairinha.

A proposta do Teatro de Narradores é clara: o grupo tem a intenção de flagrar, no jogo dos atores, o esboço de figuras socialmente reconhecíveis. Na montagem, através do despojamento total de cena como um dos elementos-chave, busca-se identificar as conexões entre os fatos tratados pelo texto (a chegada de uma classe intermediária em ascensão num país da periferia da Europa, no caso a Noruega) e a experiência brasileira.

Na interpretação do grupo, as personagens pequeno-burguesas retratadas por Ibsen ganham novo cenário, na tentativa de  compreender a pobreza na cidade de São Paulo, e no esforço de organizar uma trajetória que perfaça a história da cidade nos últimos anos e os seus desenvolvimentos através da organização de depoimentos continuados de moradores e trabalhadores de "rua" . Por outro lado, também toca a vida de uma "elite econômica", que serve não apenas de contraponto para essa pobreza, mas de pressuposto, flagrada no plano de sua intimidade,

Na encenação, dirigida por José Fernando Azevedo a partir da tradução de Aderbal Freire Filho e Érik Schollhammer, o pano de fundo, pretensamente subjetivo, é jogado à boca de cena pela inabilidade dos personagens em esconder suas superficialidades. E o jogo se multiplica pelo uso do vídeo, revelando a moldura desta sociedade escrava da naturalidade artificial milimetricamente calculada, que pode ser observada em ambientes como os reality shows de televisão e as imagens congeladas que ilustram as colunas sociais.

Voltar ao topo