Sónar dança com dupla inglesa The Chemical Brothers

Eram nove horas de bate-estaca. Música eletrônica alta nos ouvidos das 21h de sábado, 28, até as 6h do domingo, 29. O SónarClub, braço musical do festival catalão Sónar, apresentou na sua terceira edição brasileira aquilo que chama de música avançada. É eletrônica? Basicamente, sim. Mas, ao longo da maratona intensa, nuances e gêneros pipocam no palco dominado por DJs. E nos nossos ouvidos, é claro.

É avançada porque não se prende. Não se segura apenas nas batidas graves, embora elas tenham uma grande força e peso. Da chilena Valesuchi, responsável por abrir o festival, até o espanhol Pional, os recheios exibidos durante a madrugada adentro, no Espaço das Américas, em São Paulo, comprovam aquilo que, nos anos 1990, os ingleses já sabiam: a eletrônica é capaz de arrastar multidões, sem precisar se prender à estética orgânica da música, com guitarra, baixo, bateria e, claro, vocais.

No palco, o DJ é o rei. O monarca responsável pela felicidade do seu povo, seu vassalos ou como quiser chamar. Cadencia as danças, os beijos, os abraços, os goles de bebida – nenhum deles parecia faltar no reino montado pelo Sónar na cidade. Assim começou Valesuchi, responsável por abrir a noite, às 21h. Com músicas criadas nas manhãs livres em Santiago, no Chile, a DJ foge de climas solares. Pelo contrário, suas batidas são acompanhadas por nuances sombrios, tão introspectivos quanto ela, que, quietinha, apenas balança a cabeça e não desgruda seus olhos das picapes. O rosto é quase escondido pelos óculos e pelo cabelo curto, mas capaz de lhe cobrir a face.

Evian Christ seguiu a chilena e deu um passo a frente no sentido “avançado” que o festival propaga. Não há lugar comum na música do britânico. Ele inverte batidas, despeja ácido na pista e, mesmo assim, não deixa de ser dançante. Até mesmo o pop francês Brodinski, que trabalhou com Kanye West, manteve o clima experimental e fugiu das obviedades. Embora tenha lançado um álbum mais radiofônico, Brava, ainda neste ano, o DJ e produtor trilhou por caminhos obscuros, mesmo que não tanto quanto o antecessor.

Grande atração da noite, The Chemical Brothers é uma instituição da música eletrônica. A dupla formada por Tom Rowlands e Ed Simons no final dos anos 1980 é, em partes, responsável pela existência de todos os outros DJs que sacudiram a noite do Sónar. O espetáculo não é sonoro, apenas. Luzes e projeções no telão compõem a alquimia produzia pelos dois no palco. O set serviu de tudo, desde as faixas mais populares a canções do mais recente disco deles, Born in the Echoes, lançado neste ano. Go, da nova safra, é potente ao vivo, mesmo que não cause a comoção de Galvanize e Block Rockin’ Beats. São catárticos por essência, mestres na arte de fazer uma pista fervilhar. Durante mais de uma hora, com eles sobre o palco, o Espaço das Américas se fechou do mundo. Nada o que ocorria lá fora importava. Chuva, trânsito e preocupações diárias evaporavam. Ou melhor, escorriam pelas têmporas como o suor que insistia em brotar em decorrência do calor e da dança.

Até mesmo a banda Hot Chip, que veio em seguida ao brasileiro Zopelar, soou mais eletrônica do que de costume. Por fim, Pional exibiu um set poderoso, embora a casa de shows já esvaziasse. Ao longo de tantas horas fechado no mesmo espaço, o Sónar não só mostrou a música avançada. O festival foi além, expurgou males. E, sem que se pudesse perceber, o domingo já nascia lá fora quando as portas se abriram definitivamente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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