O último capítulo de A Lua Me Disse, na próxima sexta-feira, dia 30, não vai deixar saudades. A trama, de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, teve alguns bons momentos, muitos pontos negativos, retornos que passaram despercebidos e o desperdício de bons atores em papéis pouco consistentes. Quando estreou, em 18 de abril, a novela dirigida por Roberto Talma acenava com vários ingredientes que costumam "funcionar" em tramas rocambolescas.
Estavam lá a herança de família, a luta pela guarda do filho, o amor pela cunhada, entre outros "ganchos" propícios a idas e vindas dramáticas. Mas A Lua minguou em meio ao excesso de tintas na abordagem, que em nenhum momento supriu a carência de conteúdo do texto, fraco e com diálogos inverossímeis. Da mesma forma, o duvidoso humor caricato e personagens "nonsense", como a Dona Roma, um homem vestido de mulher desde sempre sem muito porquê, papel de Miguel Magno, reforçaram o apelo às cores fortes na forma, como maneira de disfarçar o rarefeito oxigênio nas idéias.
Igualmente sem sentido, o personagem Gibraltar, de João Velho, passou a trama soprando um apito, situação que nem mesmo a "honrosa" condição de síndico do Beco da Baiúca justifica. Ainda assim, o ator conseguiu o que parecia improvável até bem pouco tempo: superar o estigma de Catraca, personagem algo débil que o lançou em Malhação.
Por outro lado, o núcleo negro, encabeçado por Zezeh Barbosa e Mary Sheyla, não teve grande destaque, mas pelo menos achou o tom de humor. A começar pelas boas alcunhas de Latoya e Whitney, respectivamente, menção às homônimas cantoras negras americanas. O núcleo acabou sendo centro de uma polêmica inusitada. Enquanto as personagens negavam sua condição negra, o assunto foi encarado por grupos ativistas como um estímulo ao preconceito. Certamente, as reclamações jogaram mais holofotes sobre o assunto do que ele merecia. Na verdade, tratou-se apenas de uma brincadeira malcompreendida.
A novela foi responsável ainda pelo reaparecimento de alguns atores que andavam sumidos. Seus retornos, contudo, foram pouco notados. Foram os casos de Mário Gomes, Hugo Gross e principalmente, Pepita Rodrigues, que fizeram respectivamente Agenor, Valdo e Diva. Outros, que nem estavam tão afastados da mídia, voltaram para, mais uma vez, fazer o que parece ser o papel deles mesmos. É o caso dos inconfundíveis Maurício Mattar e Paulinho Vilhena, intérpretes de Lúcio e Adonias. No mais, novela das sete com tom farsesco não poderia deixar de ter Marcos Pasquim, desta vez como o vilão Tadeu.
O eclipse de A Lua Me Disse, contudo, não foi total. Zezé Polessa, sempre bem, destacou-se na pele de Ester, vilã-mor da trama. Foi visível também o amadurecimento de Natália Lage, que fez a Beatriz. Da mesma forma que foi válida a revelação da bela Monique Alfradique na pele de Branca, ex-paquita e que até então só havia feito pequenas participações. O casal principal, por sua vez, não foi além de morno. Adriana Esteves, como a heroína Heloísa, se não chegou a brilhar, também não decepcionou. Já Wagner Moura consolidou, como Gustavo, sua condição de queridinho do público feminino. Apesar de ser bom ator, é desde já candidato a galã de tramas vindouras.


