Uma esfinge artística sempre em processo de decifração, José Agrippino de Paula, o “Bruxo do Embu”, guru tropicalista que morreu em 2007, deixou como legado uma imensa obra multimídia – cinema, literatura, dança, teatro, happening, artes visuais, filosofia. Entre os dias 12 e 15 de abril, no Sesc Belenzinho, um evento de natureza também multidisciplinar tenta dar conta desse leque de habilidades do artista. Trata-se de A Caixa do Agrippino, que revela ao público uma faceta inédita do cineasta e encenador – a de compositor e músico.

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Agrippino costumava preparar, ele mesmo, a música que serviria de background para suas incursões no teatro e no cinema. Em 2008, a videomaker e pesquisadora Lucila Meirelles, curadora de A Caixa do Agrippino, gravava um videodocumentário para o Sesc TV sobre Agrippino, e foi à casa do cineasta Hermano Penna, que trabalhou com o Bruxo do Embu, e este lhe mostrou uma fita com o desconhecido disco Exu Encruzilhadas, de 1971.

Era um som feito de improvisos circulares (como na tradição sufi ou nas composições aleatórias de John Cage e de Marco Antonio Guimarães, do grupo Uakti), com um formato de cerimonial de candomblé. A fita não estava em bom estado, teve de ser recuperada e remasterizada e levou quatro anos para ficar pronta. Mas eis que volta à vida agora em uma caixa que tem ainda um DVD extra, com os curta-metragens Candomblé no Dahomey e Candomblé no Togo.

Música de sentido ritualístico, possui faixas com nomes como Funeral de Iansã e Veneno de Deus e organiza ruídos, mais do que cria música convencional, sem preocupação com início e fim, misturando-se organicamente. Foi gravado em estúdio doméstico pelo artista e por sua mulher na época, a coreógrafa e bailarina Maria Esther Stockler.

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Agrippino escreveu, nas costas da caixa da fita que contém o disco Exu Encruzilhadas: “Não ouça música, bicho. Crie seu barulho”. Antecipava assim, em meia dúzia de anos, o mandamento maior do punk rock (“Do it yourself”, faça você mesmo), aconselhando a nova geração a se afastar daquela produção industrial megalomaníaca da época, retomando as rédeas de seu imaginário e de suas vidas. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

EXU ENCRUZILHADAS – CD e DVD com disco e filmes de José Agrippino. Selo Sesc. Lançamento em 12/4.

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