Rio de Janeiro, anos 1990. Uma série ininterrupta de sequestros eclode ali, no coração da cidade maravilhosa, e ninguém sabe como resolver. A polícia corre em círculos e políticos fazem pressão. Afinal, seus filhos, esposas e amigos são alguns dos principais alvos desse grupo coordenado e sem rosto definido. E assim, em meio ao caos, a ponta de esperança surge na DAS, uma divisão especial da polícia empenhada unicamente em resolver casos de sequestro. O problema é que, às vezes, eles se valem de métodos pouco ortodoxos no combate ao crime.

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Essa é a trama que norteia A Divisão, série exclusiva do Globo Play que estreia nesta sexta, 19. Primeiro thriller policial do serviço de streaming, logo no primeiro episódio fica claro que a produção não busca trazer respostas ao caos da segurança pública no Rio de Janeiro – ainda que a tal divisão especial tenha conseguido, no mundo real, coibir a média de 11 sequestros ao mês na cidade. “A pergunta que queremos trazer com essa história é se os fins justificam os meios”, diz o diretor da série, Vicente Amorim. “Não existem só mocinhos ou vilões.”

Difícil, porém, não traçar paralelos entre a história contada na telinha com o avanço do crime organizado no Brasil. Afinal, toda história vem da experiência de José Júnior, criador e produtor da série. Famoso por mediar conflitos entre traficantes e polícia, ele chegou a fazer uma negociação com líderes do tráfico da favela da Rocinha para que parassem um tiroteio e, assim, pudesse continuar as gravações de A Divisão. “Tive a ideia ao entrar em contato com a história real, que dialogava muito com o Rio de hoje”, diz. “É coisa para 20 temporadas.”

Apesar do ânimo de Júnior, A Divisão tem promessa, por enquanto, de duas temporadas de cinco episódios cada uma. Um filme que dialoga com a trama televisiva deve chegar em 2020. E um making of estreia no início de agosto no Multishow. O elenco, no entanto, também se mostra animado para dar continuidade a essa história que mergulha na essência dos anos 1990. Natália Lage, por exemplo, vive uma policial durona o que não lembra em nada papéis anteriores da atriz. Já a dupla de protagonistas, Silvio Guindane e Eron Cordeiro, disse que sentiu na pele a pressão que os policiais vivem em situações de risco como as mostradas na série.

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“O fuzil se tornou parte do meu corpo”, afirma Guindane, que faz um tipo de policial durão. Ele, assim como todo o restante do elenco, participou de uma imersão intensa. Fizeram aula de tiro, entraram em contato com policiais da época, sequestradores, vítimas e viveram o dia a dia de uma comunidade no Rio de Janeiro. Segundo o diretor Vicente Amorim, isso é para que os atores sintam desconforto e a sensação, de alguma maneira, atravessa a tela.

A jovem atriz Hanna Romanazzi deixou claro que esse desconforto funcionou para ela. Na série, ela interpreta a filha de um governador que acaba sendo sequestrada e vê sua vida virar do avesso. “Minha personagem tinha tudo num dia e, no outro, não sabia se chegaria viva ao final da noite”, disse. “Foi o trabalho mais exaustivo emocionalmente em toda a minha carreira”. O veterano Marcos Palmeira, que vive um delegado, fez coro com Hanna. “Nunca tinha visto algo assim. Filmamos em locais restritos”, afirma. “Entramos em outra vida, outra realidade.”

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Público

Como ficou claro pelos depoimentos do elenco, a série não é de fácil digestão. Os cinco episódios da primeira temporada, que o jornal O Estado de S. Paulo já conferiu, estão repletos de cenas com violência explícita. Sem pudor. Nem a bela fotografia ajuda a amenizar. Afinal, muitas vezes ela surge de onde menos se espera, já que Vicente Amorim e Júnior se esforçaram pra evitar clichês básicos do gênero. Mas, com isso, encontra-se um desafio para a série: como conquistar o grande público? E mais: como alcançar audiência em praças além do Rio de Janeiro?

“A gente sabe que a série vai chocar a elite paulistana, por exemplo. É bom que choque. É um terror real, do cotidiano, que assusta mais que um horror da ficção”, afirma o cineasta. A atriz Cinara Leal, que faz uma médica na trama, conclui o raciocínio. “Eu nasci em uma comunidade. Hoje, poderia estar ligada ao tráfico, ao crime. Mas consegui escapar disso por ter conhecido a arte. Agora, quero que mais pessoas entendam isso por intermédio desse nosso trabalho.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.