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Semana dos Realizadores resgata a importância de Adélia Sampaio

Mesmo no Dicionário de Filmes Brasileiros de Antônio Leão da Silva Neto, Adélia Sampaio é negligenciada. O verbete dedicado a Amor Maldito, de 1984, diz apenas que, segundo a diretora, a história baseia-se no suicídio de uma miss suburbana. Nenhuma referência ao fato, nada negligenciável, de que Adélia foi a primeira diretora negra do cinema brasileiro, e quando o cinema já beirava os 90 anos da histórica sessão dos irmãos Lumière, em Paris. Num programa intitulado Cachoeira.Doc, a 8ª Semana dos Realizadores apresentou, domingo, 27, no Rio, o longa de Adélia num programa duplo com Kbela, de Yasmin Thayná. Seguiu-se o debate Por Um Cinema Negro no Feminino, com mediação de Janaína Oliveira.

Embora com pouquíssima divulgação, a semana é um evento seminal de cinema autoral e independente no País. Iniciada na quarta passada, 23, encerra-se nesta quarta, 30. A programação, que não estabelece distinção entre formatos e gêneros, tem abordado as questões indígena, da mulher e do negro – da mulher negra. No ano passado, a 7ª Semana já debatera ‘a construção e a desconstrução do feminino’. Para a curadora Lis Kogan, o debate sobre o cinema negro no feminino foi quase um desdobramento do ano passado. Janaína iniciou o encontro pela leitura de uma carta aberta.

Adélia Sampaio foi homenageada em Porto Alegre por seu trabalho pioneiro, no dia 20 passado, Dia da Consciência Negra. De volta ao Rio, advertiu os agentes de segurança do aeroporto Salgado Filho de que possui pinos na coluna. Ordenaram-lhe que seguisse em frente. O alarme disparou. Foi tratada como terrorista. Levada para uma sala isolada, despida, obrigada a exibir suas partes íntimas. Uma senhora negra de 70 e poucos anos. O debate já nasceu sob esse impacto. A representatividade da mulher negra na tela e a humilhação da mulher negra, na vida. Não é por ser artista que Adélia Sampaio merece respeito. É por ser cidadã.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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