Segundo Gilberto Gil, temos muita Grécia e pouca China

Ao lançar ontem à noite, em São Paulo, um ambicioso projeto de resgate da Fundação Nacional de Artes, a Funarte (o que inclui a reforma total do prédio da Alameda Nothman, em São Paulo, com projeto do cenógrafo J.C. Serroni), o ministro da Cultura, Gilberto Gil, fez o elogio do poder exercido por meio da subjetividade. Preconizou “a sabedoria chinesa substituindo o logos grego” (“temos muita Grécia e pouca China”, referência a muita racionalização e pouca paciência) e atacou o mote preferido da oposição nos últimos tempos nos ataques ao governo – a tese corrente de que o PT “tinha um projeto de poder, mas não de governo”.

Os atuais indicadores econômicos, segundo Gil, provariam que o governo tinha, sim, um projeto. Ele definiu seu discurso como uma resposta àquela visão, que chamou de “burra”, uma postura que se coadunaria “com aquilo que Nelson Rodrigues chamou de a idiotia da objetividade”. Para ele, o governo eficiente é aquele que tem a “capacidade de entender, de interpretar cotidianamente a demanda, os dinamismos”.

Na verdade, Gil elogiava a própria decisão que tomou – segundo ele, na véspera do anúncio -, de engordar o orçamento para o Prêmio Funarte de Circo. Inicialmente, o prêmio teria uma destinação de verba federal de R$ 300 mil. À noite, decidiu-se que seria de R$ 1 milhão.

“A gente viu que lá no cofre podia haver uma sobrazinha maior. Assim é o fato, assim é a maneira de gerir. Mais importante que ter tudo escritinho no papel, aquilo que vai ser feito nos próximos meses, nos dois anos que restam ao nosso mandato, muito mais importante é a sensibilidade”, disse.

O discurso foi aplaudido de pé pela platéia, a maioria de beneficiários dos planos que a Funarte lançava na noite. “Mais importante que a gestão por planejamento é a gestão por fluxo. É (preciso criar) o estímulo às disposições sensíveis de cada gestor, estar disposto, com os corações sensíveis e as mentes abertas, para aquilo que é o dia-a-dia da gestão”, afirmou o ministro.

A Funarte teve seu orçamento quintuplicado (passou de R$ 5 milhões para R$ 25 milhões) e anunciou novos prêmios, como as Caravanas Regionais – na nova fase, que engloba as regiões Sul e Sudeste, serão destinados R$ 3,3 milhões para até 80 companhias de teatro e dança excursionarem. O Prêmio Funarte Dramaturgia contemplou 29 autores.

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