SBT pode ter obra de Dias Gomes

Durante anos, Bernardeth Lyzio viveu à sombra do marido, o escritor Dias Gomes. Por causa dele, renunciou à carreira de atriz, iniciada aos 8 anos em Florianópolis, sua cidade natal, para se dedicar exclusivamente à família.

Hoje, quase quatro anos depois da morte do autor, vítima de um acidente de carro em setembro de 99, Bernardeth volta a se debruçar sobre a obra do marido. Disposta a preservar a memória de um dos mais respeitados dramaturgos brasileiros, ela negocia textos inéditos de Dias com o SBT, planeja levar a peça “Pagador de Promessas” para os Estados Unidos e sonha em inaugurar um espaço cultural dedicado ao marido.

“Não quero que a obra do Dias caia no esquecimento. A gente envelhece, mas os textos dele continuam atuais. Parece que foram escritos ontem”, derrama-se.

O primeiro passo de Bernardeth foi reunir todo o acervo inédito de Dias Gomes, que inclui desde sinopses de novelas a minisséries completas, e oferecê-las ao SBT. Desde que estreou na tevê em 1969, Dias escreveu 15 novelas, como “O Bem-Amado”, “Saramandaia” e “Roque Santeiro”, todas para a Globo. Embora também esteja negociando alguns textos com a emissora, Bernardeth teme que a obra do marido siga o mesmo caminho que a de Janete Clair, com quem Dias Gomes foi casado por mais de 40 anos. “A Globo comprou o acervo todo da Janete e não utilizou nada. Está no ‘freezer’ até hoje”, lamenta.

Teatro

Além da tevê, Bernardeth sonha também em ver a obra de Dias Gomes chegar aos palcos da Broadway. Este, aliás, era um sonho secreto do autor. Em 96, Bernardeth bem que tentou convencê-lo a negociar suas peças. Os dois chegaram a viajar para Nova Iorque, mas Dias mudou de idéia quando já estava no elevador do prédio dos agentes americanos com quem iria discutir. Ele alegou que estava “velho demais” para tentar a carreira no exterior. Por pouco, muito pouco, Bernardeth não esganou o marido. “Era um sonho, sim, mas e daí? A gente não paga nada para sonhar…”, suspira, saudosa.

Enquanto luta para realizar o sonho do marido de encenar uma peça na Broadway, Bernardeth se prepara também para concretizar o seu de interpretar uma prostituta no teatro. O texto de “Minha Doce Meretriz”, aliás, foi o último escrito pelo autor. Segundo Bernardeth, a peça narra o infortúnio de um escritor fracassado que resolve tirar a própria vida. Mas, no dia fatídico, é interrompido por uma prostituta meio atrapalhada. Ela não só desencoraja o sujeito a cometer o suicídio, como transforma a vida dele por completo. “Na cabeça dela, a personagem não chega a ser uma prostituta. Ela apenas vende companhia para pessoas tristes”, romantiza a atriz.

Na expectativa de voltar ao teatro, já entregou o texto de “Minha Doce Meretriz” para Aderbal Freire Filho e Marília Pêra. “Gostaria de recomeçar minha carreira pelo teatro. A gente se ilude muito com a tevê. A experiência teatral é muito mais enriquecedora”, garante. A mágoa de Bernardeth Lyzio com a tevê é indisfarçável. Ela admite que o fato de ser mulher do escritor Dias Gomes atrapalhou mais do que ajudou. Das cinco produções do modesto currículo televisivo, “Fim do Mundo” era a única de autoria do marido. “O próprio Dias não se sentia à vontade de me escalar para seus trabalhos”, confessa a atriz, que não faz novelas desde que interpretou a lavadeira Berenice, de “O Cravo e a Rosa”.

Mas Bernardeth não quer saber de lamentar o tempo que passou. Prestes a completar 40 anos, ela não vê a hora de voltar à ativa. Nem que seja como modelo nos Estados Unidos. A idade não intimidou a atriz a investir na carreira. Ela até lançou um site na internet – www.ripepipe.com/bernardeth  – para impulsionar a nova empreitada. “Nos Estados Unidos, as ofertas de trabalho são melhores para mulheres mais velhas. Aqui no Brasil, você envelheceu, acabou. As pessoas não dão mais valor”, reclama.

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