Muitas instituições começam, algumas prosperam, poucas sobrevivem. Raras, raríssimas são as que conseguem celebrar o centenário. Fato ainda mais notável é celebrarem 150 anos de atividades ininterruptas, dedicadas a uma boa causa. Esse é o caso da benemérita Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. São “150 anos de compromisso com a vida”, como destaca o lema que escolhemos para os festejos deste sesquicentenário.

A data memorável da sua fundação foi o dia 9 de junho de 1852, por iniciativa da Sociedade Fraternidade Curitibana. Realmente faz tempo, muito tempo. Isso aconteceu antes mesmo do desmembramento da Província do Paraná da então Província de São Paulo, que só ocorreu em 19 de dezembro de 1853, quando foi instalada a província do Paraná. Poder-se-ia até dizer que a Santa Casa foi estabelecida para dar assistência ao nascimento deste nosso vigoroso Estado do Paraná.

O momento da celebração deste sesquicentenário é oportuno para voltarmos os nossos olhos para os bravos pioneiros que criaram esta instituição e aos seus denodados continuadores que, dia após dia, ano após ano, dedicaram o melhor do seu talento e do seu esforço a serviço de obra tão benemérita. A todos eles prestamos a nossa comovida homenagem. O passado nos sirva de exemplo na construção de um futuro ainda mais grandioso. O ideal dos pioneiros e a memória de tantos homens e mulheres ilustres e abnegados que nos precederam nesta caminhada nos enchem de coragem e disposição para prosseguir, com igual empenho.

Estou convencido de que a Santa Casa é uma santa causa para nós. Foi por esta razão que a abraçamos com entusiasmo e determinação. Recentemente, descobri que a mesma expressão já fora usada pelo médico José Cândido da Silva Muricy, responsável pela construção do Hospital de Caridade e provedor da Irmandade. Conforta-se constatar que idêntico sentimento continua profundamente vivo até hoje.

A Santa Casa de Curitiba sempre esteve associada à vida da população de Curitiba e região. Foi presença fiel e participante em todos os momentos de sua história, sobretudo nos de maior sofrimento dos seus cidadãos. Esta é a sua vocação desde a origem. Aliás, a sua criação já foi motivada por uma epidemia de cólera, que, então, assolava a nossa gente. Ela tem mantido as portas sempre abertas às pessoas que a procuraram para obter alívio em sua penas e enfermidades, sem qualquer discriminação. Pelo contrário, sempre deu até preferência aos mais necessitados e aos desvalidos da sorte. Mesmo que não existam estatísticas oficiais, sabemos que já somam vários milhões o número de pessoas que adentraram as suas portas em busca de ajuda. E todos tiveram acolhimento e assistência. Não é, pois, sem razão que a Santa Casa tem conquistado o carinho, a gratidão e um alto conceito de benemerência de toda a população desta cidade e deste Estado.

A Santa Casa já nasceu como uma instituição da Igreja Católica e, na sua origem, instalou-se ao lado da então Igreja Matriz, na atual Praça Tiradentes. O seu nome é o seu programa de ação. Não poderia ter recebido uma denominação mais apropriada, pois cada palavra carrega um denso significado: Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Sua missão é clara, estampada no seu estatuto, que ela chama de compromisso: a prática das misericórdias corporais e espirituais, descritas no Evangelho de Mateus, sobretudo a assistência aos enfermos.

Se, por um lado, a Santa Casa tem sido o mais conhecido hospital popular do Estado, por outro, carrega também as honras de ter sido berço da medicina paranaense. O Hospital de Caridade foi responsável pela formação de inúmeros médicos e pioneiro na introdução de novas práticas e tecnologias médicas no Paraná. Foi o hospital-escola da Universidade Federal, desde a fundação da Faculdade de Medicina, em 1912, até o início da década de 1960, quando foi inaugurado o Hospital de Clínicas. O Curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná nasceu dentro da Santa Casa, na década de 1950.

A recente integração com a PUCPR, que resultou na formação do Complexo Hospitalar Universitário da Aliança Saúde, consagra e fortalece ainda mais a tríplice vocação desta tradicional instituição: a assistência à população, o ensino e a pesquisa científica interdisciplinar. Se a Santa Casa tem um glorioso passado, o seu futuro não será menos grandioso. Em breve espaço de tempo o novo conglomerado deverá constituir-se num moderno centro de excelência e de referência médica no Paraná e no Sul do País.

Clemente Ivo Juliatto é provedor da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e integrante da Academia Paranaense de Letras.

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