Sabrina Rosa até que tentou, mas não conseguiu trabalhar em outra coisa

Desde que deu os primeiros passos na arte de interpretar, aos dez anos, Sabrina Rosa não teve dúvidas de que só poderia ser atriz. De fato, a bela negra que estréia em novelas com a batalhadora Verinha, de Chocolate Com Pimenta, fala com evidente entusiasmo da profissão. E cai no riso quando lembra de sua primeira – e malfadada – experiência num emprego tradicional. Sem dinheiro, Sabrina topou trabalhar como secretária numa loja de consertos de produtos eletrônicos. Mas, visivelmente entediada, foi demitida logo no primeiro dia. “Cheguei em casa e minha mãe me recebeu toda orgulhosa, dizendo: ?Filha, que bom! Primeiro emprego, carteira assinada…?. Ela ficou uma fera quando soube o que aconteceu”, lembra, com ar moleque.

De fato, estar numa novela da Globo significa uma grande vitória para Sabrina. De origem humilde, a jovem de 25 anos nasceu e cresceu no Morro do Vidigal, onde mora, na zona sul do Rio de Janeiro. E foi assistindo a uma peça de teatro na própria comunidade que Sabrina descobriu a vocação artística. Há 15 anos, ela participa do Grupo Nós do Morro, dedicado a formar atores entre crianças e adolescentes do Vidigal. “Com o tempo, passei de aluna a professora. Nunca vou deixar o grupo. Eles são minha segunda família”, derrete-se.

Currículo cheio

Apesar de muitas vezes ter contado moedinhas, como a maioria dos atores iniciantes na profissão, Sabrina orgulha-se em dizer que nunca lhe faltou trabalho. “Quando a coisa ficava feia, sempre pintava um convite. Podia ganhar pouco, mas saía do sufoco”, conta a atriz, que contabiliza cinco peças, três longas e três curta-metragens no currículo. Até ser convidada para a novela de Walcyr Carrasco, o trabalho de maior destaque de Sabrina tinha sido em Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. No filme, a atriz interpreta a namorada de Mané Galinha, que vira bandido depois que não consegue evitar que ela seja estuprada por traficantes. “Eu ia fazer só uma participação, mas na última hora me deram essa personagem. Era um dos três papéis femininos de maior destaque”, valoriza a atriz, que fez também uma ponta em O Primeiro Dia, de Walter Salles.

Surpresa

O convite para Chocolate Com Pimenta surgiu de maneira inesperada. Há algum tempo, Sabrina tinha uma fita sua catalogada na Diretoria de Recursos Artísticos da Globo. O material foi prontamente aprovado pelo diretor Jorge Fernando e a atriz nem precisou fazer teste. Recebeu, por telefone, a notícia de que tinha sido selecionada para a novela. “Estranhei um pouco aquele monte de câmaras no estúdio, mas não fiquei nervosa. Já tinha alguma experiência de trabalhos menores e dos dois anos em que atuei no Globo Ciência”, minimiza Sabrina, que em casa assume outro papel – o de mãe da pequena Letícia, de 10 meses.

Mamãe de primeira viagem, a atriz começa a entender melhor como é ser responsável por alguém – exatamente como acontece com sua personagem que, na ausência dos pais, assumiu a criação dos irmãos. “Ela é professora formada, mas trabalha no salão de beleza. Nos anos 20, uma negra jamais conseguiria emprego para dar aula”, explica. Mas Sabrina torce para Verinha arranjar um trabalho como professora e, de quebra, um namorado. De fato, a atriz nada tem de conformada. Aos 13 anos, ela tanto fez que convenceu a mãe a deixá-la interpretar uma prostituta no filme franco-canadense Como Pássaros no Rio, ao lado de Toni Garrido. “Ela achava a personagem barra-pesada demais para mim. Mas eu sabia que era uma grande oportunidade de crescer como atriz”, avalia. Nos anos seguintes, Sabrina veria as cobranças aumentarem. “Quando se é criança, é muito bonitinho fazer teatro. Na adolescência, começam a perguntar quando você vai trabalhar de verdade. Na idade adulta, então, o ator que não tem um emprego fixo é tachado de vagabundo”, espanta-se a simpática atriz, arregalando os vivos olhos cor de jabuticaba.

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