Sabedoria & Fotografia – II

O gênio trágico do grego Eurípides (480-406 a.C.) nos diz que tentar o impossível não é digno do sábio.

Quando um leitor me perguntou: “Afinal, Roberto, o que é sa-be-do-ri-a?”, eu bem sabia que uma resposta de dicionário não o satisfaria de forma alguma. Também sei que uma resposta pessoal – a chance suprema de um ensaísta conquistar honestamente a atenção do leitor – é um novilho sagrado que invariavelmente é conduzido ao deserto e à degola pelo agnosticismo multiforme de nossos dias. Mas diante da pergunta, fazem-se necessárias algumas considerações que enriquecem o papel da Fotografia na civilização humana do século XXI – tanto porque estas considerações pertencem ao santuário cultural da Fotografia, quanto porque o transcendem.


Uma imagem fotográfica tem bordas; molduras que interagem visualmente com a imagem em si e com o meio-ambiente no qual ela se localiza. Uma imagem fotográfica tem pigmentos – ou pixel: manchas gráficas que compõem sua dimensão visual. Uma imagem fotográfica tem sentidos, como os noemas, a dimensão racional da imagem (o noema é um dos fundamentos da Fotografia, que nos é lembrado com rara acuidade pelo realista Roland Barthes). Enfim, uma imagem fotográfica conhece limites.

Assim, partindo da realidade existencial da imagem fotográfica, e avançando no desenvolvimento das idéias sobre seus limites, pode-se dizer que sabedoria é: a) o reconhecimento dos limites humanos; e b) o reconhecimento do valor das percepções pessoais.

Nunca é demais repetir que nós fotografamos porque queremos dizer algo. E uma imagem fotográfica, por sua vez, sempre diz algo. A mensagem de ordem racional da imagem fotográfica pode ser simples como “veja, estou em Paris!”, ou “este é o meu cachorrinho!”. Mas também há conteúdos emocionais, como num pôr-do-sol tranqüilizante, ou nas imagens de guerra que focalizam os efeitos emocionais devastadores da dor física. Na verdade, ao fotografar expressamos o que é importante para nós e – quem sabe? – o que pode ser de grande relevância para outras pessoas (ainda que o valor universal de uma imagem fotográfica só venha a ser integralmente apreciado pelas gerações futuras).

Os limites humanos na vida, no espaço-tempo cósmico. Os limites da mente humana. E o valor, dentro da complexa rede da cultura humana, de uma visão pessoal dos eventos da vida. Se estas considerações dizem respeito à sabedoria, e na medida em que é possível reconhecer no corpo e na alma da Fotografia a manifestação viva desta sabedoria, então justamente as fotografias caseiras mais simples, que ficam esquecidas por anos em uma gaveta, ao serem trazidas à luz elas nos revelam o segredo sutil cifrado nos oráculos de todos os tempos: o eterno conhece-te a ti mesmo.

Roberto Lopes é fotógrafo e editor do site de Fotografia exclusivo do Paraná-Online, Pensamento Fotográfico.

Acesse www.parana-online.com.br/fotografia/

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