Ruy Castro desmistifica jornalismo literário

“Ouvi falar de jornalismo literário pela primeira vez há dez anos e até hoje não entendi o que significa”, brincou o jornalista, biógrafo e colunista da Folha Ruy Castro em sua palestra na Casa Folha, em Paraty. “Um termo não casa com o outro. Jornalismo é jornalismo, bem ou mal feito”, prosseguiu.

Na palestra na manhã de hoje, Ruy criticou a importância dada ao “new journalism” ou jornalismo literário, gênero surgido na imprensa americana que pretendia misturar a narrativa jornalística com a literária.

“Sempre achei que fosse possível conciliar a objetividade com o capricho de estilo. Sempre fiz isso na minha carreira. O “new journalism” é só um rótulo, não acrescentou nada. Dessa turma, o único que admiro é o Truman Capote, que fez um romance de não ficção em “À Sangue Frio”.”

Em seguida Ruy ironizou Gay Talese, um dos papas do gênero. O jornalista norte-americano ganhou fama com a reportagem “Frank Sinatra está resfriado”, em que traça um perfil do cantor sem o ter entrevistado, apenas observando e ouvindo opiniões de pessoas que o cercavam. “Qualquer repórter faz isso. Desde a época de Gutenberg se faz isso”, brincou.

O biógrafo também relembrou a passagem de Talese por Paraty na Flip de 2009.

“Ele veio com aqueles ternos de US$ 15 mil, ele trouxe uns 80. Paraty não tem uma pousada com um guarda-roupa que possa acomodar os tenros dele.”

Biógrafo de Garrincha, Nelson Rodrigues e Carmen Miranda, Ruy comentou seu método de trabalho –e endereçou algumas dicas a Talese.

“A apuração é a coisa mais importante. Você tem que ter um conhecimento prévio da pessoa que vai entrevistar. Sabendo isso, você tem como aproveitar melhor o que ela fala. Faço isso não só nos livros, mas também para as entrevistas que fazia para a ‘Playboy’. A minha pauta tinha umas 300 perguntas.”

Outro regra de Ruy é nunca biografar pessoas vivas ou que morreram há pouco tempo. “Já recusei muitas propostas, não há possibilidade de aceitar. O cadáver não pode estar fresco. No dia seguinte depois da morte, a pessoa não tem nenhum defeito, só qualidades.”

Ele comentou que não planeja nenhuma nova biografia no momento, até por conta dos problemas causados pelos herdeiros dos biografados. “Até tenho alguns nomes, mas só de pensar nas dificuldades que teria com os herdeiros já desanimo. Di Cavalcanti, Guimarães Rosa, é tudo chave de cadeia”, brincou.

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