O Red Hot Chili Peppers já pode começar a aplicar para a cidadania brasileira, tantas vezes a banda já esteve por aqui. O show da noite desta quinta-feira, 3, foi a quarta participação do grupo no Rock in Rio, e o terceiro ano seguido da mesma turnê no Brasil.

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O Red Hot consegue trazer um par de novidades para a apresentação, entre elas um cover de Just What I Needed (uma clara homenagem para Ric Okazek, vocalista recentemente morto do The Cars, banda originária da canção), e outra é Aeroplane, do álbum One Hot Minute, de 1995.

Mas são os sucessos do Red Hot que começam a justificar o terceiro convite em três anos para a banda tocar no Brasil – os hits e o pouco espaço que sobrava entre o público na Cidade do Rock, talvez no seu dia mais lotado até aqui. Da frente do Palco Mundo até a roda gigante, o espaço era raro.

No palco, o baterista Chad Smith exibe a vitalidade de sempre – foi ele o único membro da banda a atender aos fãs no hotel em que eles ficaram no Rio -, e o grupo parece se divertir com o que faz no palco, mas a sensação é passageira. Mesmo o enorme público que se prostra à frente do Red Hot se vê desanimado em momentos do show como Go Robot, do álbum mais recente da banda, The Getaway (2016), uma releitura do que o próprio grupo já fez melhor no passado.

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Flea, o baixista maluco, diz que o ar do Brasil é o melhor do mundo. “É quente, suave, o mais doce do mundo”, diz. Ele um dos responsáveis pelo som funkeado do Red Hot, uma mistura californiana de Chic (que tocou antes no mesmo palco) e country music.

Na metade do show, o Red Hot toca uma versão de I Wanna Be Your Dog, do Stooges, assim como fez em 2017, num momento de reverência ao passado. O problema é que mesmo algumas canções da própria banda exalam um odor de ultrapassadas.

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É uma encruzilhada interessante para o festival resolver: seguir apostando nos sucessos do passado (como o Red Hot) ou ser mais interessante e abrir espaço para os sucessos do presente e do futuro? Segundo a organização, o mesmo número de pessoas, 100 mil, estavam na quinta, quando Red Hot tocou, e na sexta-feira anterior, quando Drake subiu ao palco.

No bis, Anthony Kiedis toca um cover improvisado de Ramones: I dont wanna grow up (eu não quero envelhecer), e a mensagem fica como verdadeira. Talvez seja a hora do festival fazer a mesma questão para si mesmo e parar de repetir sempre os mesmos headliners.

Outros palcos

Dona Onete foi quem comandou o show inédito e exclusivo Pará Pop no Palco Sunset do Rock in Rio 2019 na tarde desta quinta-feira, 3, retomando a maratona de shows que vai até o próximo domingo, 6. A tarefa foi fácil com sucessos na ponta da língua do público, como Jambu Treme e No Meio do Pitiú.

O encontro ainda viu subir ao palco Fafá de Belém, Gaby Amarantos, Jaloo (de disco novo na bagagem) e Lucas Estrela (jovem guitarrista paraense que antes trabalhou como roadie para alguns desses nomes).

Com muitos hits, o Capital Inicial abriu o Palco Mundo, onde mais tarde se apresentaria o headliner Red Hot Chilli Peppers. Jatos de fogo no palco acenderam as luzes da cidade em Depois da Meia Noite.

O rock continua fazendo barulho com esses caras. “Adrenalina está correndo aqui nas minhas veias”, confessa o vocalista Dinho Ouro Preto. Independência e Música Urbana reafirmam o coro que conhece todos os versos. “Tudo quase errado mas tudo bem, tudo quase sempre como eu sempre quis.” As canções mais calminhas também deram as caras.

Misturando o peso do hip hop paulistano de Emicida com o world music contemporâneo do duo franco-cubano Ibeyi, o Palco Sunset do Rock in Rio testemunhou no início da noite desta Quinta-feira um dos encontros mais aguardados desta edição do festival. E eles foram ovacionados em mais de um momento do show.

Já Nile Rodgers não deu muita sorte. Promovido de palco desde a última edição do festival – quando apresentou um show impecável contando uma história da música popular em canções no Sunset – Rodgers dessa vez enfrentou problemas com a sua guitarra, talvez na primeira ocorrência de problemas de som no Palco Mundo nesta edição.

Sem vencer os problemas de som, Nile passeia pelos seus hits feitos para Diana Ross (Im Coming Out e Upside Down) e para o Sister Sledge (Greatest Dancer e We Are Family), antes de saltar para o futuro e cantar Get Lucky, parceria com Pharrell Williams e Daft Punk, numa prova concreta de que sua música e o que ele faz no estúdio sobreviveram ao teste do tempo.

Em um dia cuja a programação do Rock in Rio foi eclética, pra dizer o mínimo, a tentativa mais ousada do Palco Sunset – juntar uma orquestra de 32 músicos e 4 MCs do hip hop – acabou virando um baile do gênero, encerrando a agenda do espaço na quinta.

Com cordas e sopros, a participação da orquestra na verdade entrou pouco nos arranjos das músicas durante a maior parte do show, ainda dependente das programações eletrônicas, espinha dorsal do hip hop. Mais ao fim do show, nomeado Hip Hop Hurricane, a presença dos sopros se impõe e uma grandiosidade se ensaia. O fato de os quatro rappers – Rael, Rincon Sapiência, Agir e Baco Exu do Blues – permanecerem no palco (quase) o tempo todo deu um ar de legitimação para o experimento.

No Palco Mundo, a penúltima banda a se apresentar foi o Panic! At The Disco. A banda, que foi uma das mais importantes do gênero emo nos anos 2000, trouxe a voz de Urie e uma sonoridade agressiva, estridente e muito explosiva. Panic! transitou entre canções mais antigas, como I Write Sins Not Tragedies, e mais recentes, como High Hopes. Também tocou seu conhecido cover de Bohemian Rhapsody, do Queen, em um momento que empolgou o público.

Sexta-feira

Nesta sexta-feira, 4, o Rock in Rio recebe o “dia do metal”, em que todas as atrações dos palcos principais têm ligação com o gênero. Do Iron Maiden (headliner, que pediu para tocar mais cedo do que o horário estipulado para os carros-chefe do evento) ao Slayer (que faz, promete, o seu último show no Brasil na história), a transmissão do evento é pelo Multishow na TV e no Youtube.