Robert Lepage traz a São Paulo seu ‘Jogos de Cartas’

Um dos mais criativos encenadores do planeta, o canadense Robert Lepage estava em Las Vegas, em 2003, quando um fato dramático estimulou sua criatividade. “Eu estava criando um espetáculo para o Cirque Du Soleil, Kà, quando o então presidente americano George Bush ordenou o bombardeio a Bagdá”, conta ele, em conversa telefônica com o jornal O Estado de S.Paulo. “Próximo a Vegas, existia uma vila iraquiana fake, Al Subir, criada pelo exército para treinamentos de ataque. De repente, eu me vi em uma cidade que traz uma estética emprestada de Bagdá – os hotéis se chamam Aladdin, Sahara, Oasis – e que ficou subitamente vazia, pois a pessoas temiam ataques terroristas. Comecei a pensar em um projeto sobre como entendemos o mundo árabe.”

Foi o ponto de partida para um audacioso projeto intitulado Jogos de Cartas, cujas duas primeiras partes, Espadas e Copas, serão apresentadas por Lepage e 12 atores no Sesc Santo Amaro, a partir do dia 11. “O espetáculo se divide em quatro partes, como os naipes do baralho, e se passa em diferentes épocas e em distintas partes do mundo.”

Trata-se de um espetáculo com a marca Lepage, em que a atuação é completada por recursos multimídias. Dessa vez, o palco é circular, que se desdobra em múltiplos espaços. No seu centro, um buraco com pouco mais de um metro de profundidade, onde os atores se desdobram em diversos personagens.

Estar em Las Vegas naquele instante foi decisivo para a concepção de Jogos de Cartas. “Lá, as pessoas passam o dia disputando a sorte, especialmente com baralho, cuja origem é aceita como árabe”, conta o encenador, que volta ao Brasil depois de mais de dez anos (em 2001, esteve em São Paulo onde apresentou The Far Side of the Moon).

Dessa forma, Espadas tem a guerra como ponto de partida, enquanto Copas trata das relações inter raciais. “Cartas de um baralho são misteriosas e, combinadas, criam diferentes histórias”, justifica Lepage.

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