Retrospectiva do fotógrafo Roger Ballen é inaugurada no MAC-USP

Geologista altamente graduado, interessado em psicologia, o norte-americano Roger Ballen, de 65 anos, sempre encarou a fotografia como a “forma de arte”, diz. Fotógrafo com uma pesquisa autoral, formada por imagens em preto e branco – nunca, em cor -, ele foi diluindo, desde 1968, o dado documental de suas obras até chegar a uma vertente cada vez mais surreal, para destacar a condição – ou a escuridão – humana. “Se fosse para considerar meu trabalho político, diria que ele é psicologicamente político ao desafiar as pessoas a questionarem suas percepções, encontrarem novas reflexões de si mesmos”, afirma Ballen ao jornal O Estado de S.Paulo, de Johannesburgo, África do Sul, onde vive.

Em agosto de 2014, o nova-iorquino esteve em São Paulo para conhecer as instalações do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, instituição que inaugura neste sábado, 28, a mostra Roger Ballen: Transfigurações, Fotografias 1968-2012, com 113 de seus trabalhos. “É muito clarificante ver minha produção em retrospectiva, pois simboliza a passagem do tempo fisicamente, mais do que memórias”, define. A exposição, primeira individual do fotógrafo na América Latina, começou sua itinerância no Museu de Arte Moderna do Rio.

Autodidata, filho de uma colecionadora de fotografia que trabalhou na famosa agência Magnum, Roger Ballen tem uma obra marcada pela realização de séries, como se pode ver no MAC-USP. “Interessa a ele, sobretudo, a psique humana”, diz Daniella Géo, curadora da mostra, sobre a evolução dos trabalhos do artista. Durante a maior parte da trajetória do fotógrafo, é possível identificar seu interesse por uma estética do grotesco – e é inevitável relacionar algumas de suas obras às imagens de outra norte-americana, Diane Arbus (1923-1971).

Entretanto, o olhar mais adensado – e quase inédito no Brasil – para a produção de Ballen é a oportunidade de se conhecer as camadas de uma pesquisa que se torna, a cada degrau, mais abstrata.

A retrospectiva, cronológica, começa com um conjunto de trabalhos de teor fotojornalístico. Uma dessas fotografias, que registra dois velhos homens pescando, representa, segundo a curadora, “o início do olhar do Roger Ballen” por tocar em uma questão cara ao artista, a da “transitoriedade da vida”. Dessas obras de, basicamente, 1968, passa-se para a primeira série do fotógrafo, Boyhood (Meninos), realizada entre 1973 e 1978.

“Além de vermos sua identificação por um assunto de interesse, a infância de garotos, já observamos nessas fotografias suas escolhas particulares, como a linguagem corporal, a estranheza do gesto, o tipo de enquadramento, as máscaras”, diz Daniella. Na ocasião desse trabalho, em 1975, Ballen visita a África do Sul, onde mais tarde, em 1982, fixou residência.

No país do apartheid, o fotógrafo cria uma de suas mais conhecidas obras, Platteland (1986-1994), conjunto que o tornou local e internacionalmente conhecido. Trata-se de uma sequência de retratos de trabalhadores rurais sul-africanos, todos brancos, empobrecidos e marginalizados. “É um trabalho que foi controverso porque na África do Sul, que pregava a supremacia branca naquela época, não se tinha interesse de que essas imagens viessem à tona”, conta a curadora. Depois desse marco, Ballen desenvolve conjuntos nos quais mescla de forma cada vez mais complexa a realidade e a ficção, tocando, até mesmo, o campo da encenação.

Congo

A organizadora da retrospectiva de Roger Ballen, Daniella Géo, é cocuradora da 4ª Bienal de Lubumbashi, que ocorrerá entre 9 de outubro e 7 de novembro na segunda mais importante cidade da República Democrática do Congo. “Convidamos três artistas brasileiros, Mônica Nador, Henrique Oliveira e Jonathas de Andrade, mas estamos fechando patrocínio para viabilizar suas participações”, afirma a brasileira Daniella, que vive na Bélgica. A edição, sob o título ‘Realidades Cadentes’, é dirigida pelo africano Toma TomaMuteba Luntumbue. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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