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Renoir e ‘A Marselhesa’, a Queda da Bastilha pelo ângulo do povo

O cineasta francês Pierre Schoeller defende-se da acusação de didatismo dizendo que, em toda a sua extensa pesquisa para realizar A Revolução em Paris, o que encontrou foram relatos que colocou na tela. Um povo e seu rei, a miséria das massas e o fausto da realeza. Insiste que, de certa forma, a República está ameaçada. “Não podemos pedir, indefinidamente, aos pobres que continuem pagando a conta dos ricos.”

Ao contrário de Sofia Coppola, que, em Maria Antonieta, de 2006, dirigiu sua câmera para o topo da pirâmide social, filmando a corte, ele foi à base. Foi até mais longe – “Meu filme retrata todos os estratos sociais envolvidos no episódio. Pobres, ricos, constituintes. A grande História vista por seus personagens representativos e pelos anônimos. Pesquisei muito, mas não sou um historiador. Fiz uma obra de ficção.”

Ele admite que o próprio cinema lhe forneceu ferramentas importantes. “Assim como em livros e documentos, pesquisei nos filmes e um foi particularmente importante para mim.” Schoeller está falando de A Marselhesa, de Jean Renoir, de 1938. Recapitulando – em 1936, o diretor fez Les Bas-Fonds; em 1937, A Grande Ilusão, e aí veio A Marselhesa, seguido por A Besta Humana, também de 1938, e A Regra do Jogo, 1939. Por mais que outros filmes de Renoir tenham alcançado a unanimidade, para colocá-lo no Olimpo do cinema – François Truffaut o venerava -, A Grande Ilusão e A Regra do Jogo são quase sempre considerados suas obras-primas. A Marselhesa não dispõe de uma reputação tão elevada, mas é fácil entender por que foi decisivo para Pierre Schoeller. A Marselhesa retrata o bas-fonds da Revolução Francesa.

O filme com Pierre Renoir, Louis Jouvet e Lisa Delamare – nomes destacados do cinema francês da época – coloca na tela a eclosão revolucionária vista pelos olhos das pessoas comuns, que, empurradas pela vanguarda, foram às ruas e o movimento desembocou na Queda da Bastilha. Os personagens de Françoise e Basile, Adèle Haenel e Bernard Ulliel, em A Revolução em Paris, poderiam sair do povo humilde retratado por Renoir. “Foi um filme que me serviu como referencial, e um dos meus favoritos, em matéria de Revolução Francesa”, admite Schoeller. Pelo visto, ele não tem Casanova e a Revolução, de Ettore Scola, em grande conta, porque, cutucado pelo repórter, não leva essas conversa adiante.

Considerando que o segmento da Assembleia Constituinte, e o embate entre Robespierre e Marat, lhe interessa tanto em A Revolução em Paris, a pergunta é inevitável – e o Danton – O Processo da Revolução de Andrzej Wajda? Aqui ele solta o verbo. “Wajda é um grande do cinema político, e o filme é certamente forte, mas sua visão da Revolução Francesa só lhe interessa pelo que oferece de oportunidade para discutir a Polônia dos anos 1980, quando seu filme foi feito. “É muito mais um filme sobre Lech Walesa e o sindicato Solidariedade”, diz Schoeller, “e nesse sentido dá prosseguimento aos homens, o de Mármore e o Ferro.”

De volta a A Revolução em Paris – e, após o Festival Varilux, a estreia nos cinemas brasileiros é garantida e está prevista para novembro de 2019 -, o filme impõe pelo visual opulento. Da Corte aos miseráveis, está tudo lá, e muito bem reconstituído.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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