Relação homossexual já não recebe tantas críticas do público

Quando aceitou o convite do diretor Ricardo Waddington para integrar o elenco de Mulheres Apaixonadas, Paula Picarelli nem tinha certeza de que Rafaela viveria realmente uma relação homossexual na trama. O mistério em torno da personagem e de Clara, vivida por Aline Moraes, era muito grande e tudo poderia não passar de uma simples amizade, aproveitada pelo autor para abordar o preconceito. Mesmo assim, a atriz temeu muito a reação do público. “Tenho muitos amigos homossexuais e sei que eles sofrem a vida inteira com o preconceito das pessoas e até com casos de violência”, justifica a atriz, de 24 anos.

Depois de levar a história em “banho-maria” durante algum tempo, o autor Manoel Carlos resolveu investir de verdade na relação entre Clara e Rafaela. Aumentou as demonstrações de intimidade entre as duas personagens e começou a inserir cenas nas quais elas apareciam sozinhas, no apartamento que mantinham em comum. A surpresa de Paula com a reação do público foi enorme. “Até as donas-de-casa dão força à relação delas. As pessoas têm sido muito carinhosas”, comenta.

De fato, o primeiro grupo de discussão sobre a novela mostrou que os espectadores apóiam a forma como o tema vem sendo apresentado. Ao contrário de experiências anteriores, quando personagens homossexuais foram rejeitadas. Aconteceu com Cecília e Laís, vividas por Lala Deheinzelin e Cristina Prochaska em Vale Tudo, de 1988, e 10 anos depois com Leila e Rafaela, interpretadas por Sílvia Pfeifer e Christiane Torloni em Torre de Babel.

Desta vez, a história parece que vai ter um final diferente. E Paula credita a mudança à sensibilidade do autor. “O Maneco tem desenvolvido o assunto de maneira muito delicada. Tenho plena confiança nele e tenho certeza de que ele não vai passar dos limites”, derrama-se a atriz. “Passar dos limites”, pelo menos na visão dos espectadores que formam o grupo de discussão, seria, por exemplo, mostrar uma cena de beijo entre as personagens. Prova de que a “mudança” não é tão grande assim. “Sei que o preconceito ainda é muito grande. E o bacana de fazer esta personagem é abrir a cabeça das pessoas para a discussão”, avalia Paula.

Evidência

Além do trabalho de “conscientização”, a atriz tem curtido mesmo é estar no horário nobre da Globo. Antes da novela, Paula fez sua estréia na tevê no seriado Sandy & Júnior, onde viveu Carol, uma das namoradas do cantor no programa. “Não conhecia a linguagem das novelas e acho que é um trabalho mais importante. Tanto pelo horário quanto pelo peso da personagem”, valoriza. Como da primeira vez, Paula teve uma “mãozinha” do acaso na conquista do papel. A atriz só tinha feito alguns comerciais e peças de teatro quando foi descoberta por um “olheiro” da Globo. Poucos meses depois, estreou no seriado. Desta vez, foi um teste arquivado para a novela Coração de Estudante que chamou a atenção do diretor Ricardo Waddington. “As coisas têm acontecido de surpresa. Até pensava em fazer televisão, mas nunca tinha investido nisso de verdade”, confessa.

Paulistana

Formada pela Escola de Artes Dramáticas da Universidade de São Paulo, a atriz paulistana trocou a cidade natal pelo Rio de Janeiro em função das gravações da novela. Mas é só surgir uma folguinha que ela corre para visitar a família. “Digo que ainda moro em São Paulo, mesmo estando só um ou dois dias da semana na cidade”, conta, cheia de saudades. Mesmo assim, ela gosta de curtir a paisagem carioca nas horas livres. Já conheceu a Urca e espera uma oportunidade de “explorar” o bairro de Santa Teresa. “Meu perfil é bem paulistano, mas estou adorando o Rio também”, jura a atriz.

Nas saídas às ruas das duas capitais, Paula ouve muitos comentários sobre o relacionamento de Rafaela e Clara e já percebeu que a torcida pelas duas é grande. Da mesma forma, ela também espera que as meninas tenham um final feliz. Mas, como fazia no início da trama, aguarda cada cena com um misto de expectativa e confiança em Manoel Carlos. “Só ?Deus? sabe o que vai acontecer a elas”, brinca, referindo-se ao autor.

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