Regina Casé se surpreendeu com a reação estrangeira

No domingo, 01, Regina Casé curtia as férias na Bahia, na casa de Gilberto Gil. “Eu estava lá, largadona no sofá depois do almoço, quando chegou a equipe do Fantástico”, diz a atriz em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. “Foi aí que eu falei: ‘Gente, esse negócio parece que é grande!’.” A apresentadora se refere ao prêmio de Melhor Atriz, que recebeu, ao lado de Camila Márdila, no sábado, 31, no Festival de Sundance, pelo trabalho que executou no filme Que Horas Ela Volta?.

Regina conta que ainda não consegue dimensionar o significado do reconhecimento. “Recebi tantas mensagens de gente que eu conheço e que eu não conheço. Tento entender o tamanho do prêmio pelo peso que as pessoas estão dando”, diz. “Acho que vai ser muito bom para o cinema nacional, principalmente porque as premiações ficam sempre ligadas apenas ao Oscar. E eu não sei se já houve premiação para algum brasileiro em Sundance, já?”, questiona. O festival já premiou trabalhos nacionais, mas esta é a primeira vez que atrizes brasileiras são reconhecidas.

Para ela, grande parte dos filmes nacionais não têm uma produção para competir como um blockbuster, mas o Festival de Sundance dá espaço para um perfil de cinema que tem tido destaque no País. “É legal que o longa tenha uma carreira fora do Brasil por esse canal. O Som ao Redor (dirigido por Kleber Mendonça Filho, em 2012) já esboçou esse caminho, e foi ótimo. Um longa brasileiro passar bem em outros países é algo que não acontece há tempos.”

Após a exibição de Que Horas Ela Volta? no festival, o filme foi ovacionado, o que deu à atriz a certeza de que o trabalho estava agradando ao público. “Foi muito elogiado, mas eu não esperava ganhar o prêmio de Melhor Atriz. Eu nem sabia que tinha prêmio para atriz”, diz.

Na ocasião, Regina ficou surpresa com o entendimento do público estrangeiro sobre uma personagem tão brasileira. No enredo, ela interpreta Val, uma pernambucana que deixa a filha (interpretada por Camila Márdila) para tentar a vida em São Paulo trabalhando como babá. “Tudo que era legal nesse trabalho eu pensava ser específico: o sotaque pernambucano, a expressão, o gestual, o jeito de andar. No Brasil, acho que todo mundo vai ter essa percepção. Mas alguém lá de fora entender isso…”, diz, frisando estar surpresa pela compreensão de Val por um público que não tinha ferramentas suficientes para entender a personagem. “Ela conseguiu transcender isso tudo e passar a emoção de alguma maneira.”

Segundo a apresentadora, a diretora Anna Muylaert deu, em algumas cenas, liberdade total na atuação. “Não era nem que ela permitisse cacos (interjeições criadas pelos atores em cena, não previstas no roteiro), ela dizia: ‘Nessa cena você tem de arrumar uma mala. Enquanto isso, faça os comentários que você quiser’.” Assim, Regina soltou frases como “Gente, não tem um pé de árvore nesse lugar!” em uma cena no Largo da Batata, em São Paulo. “Depois saiu a notícia de que plantaram árvores lá, e aí muita gente me enviou a notícia dizendo que a Val foi profética”, diverte-se.

Para criar a personagem, Regina diz ter pensado em diversas empregadas que conheceu, especialmente nas mulheres que trabalharam para sua avó e para sua mãe. Ela define Val como “o mico-leão-dourado das empregadas”. “É o tipo de profissional que mora na casa da família onde trabalha, que fica por lá mesmo em dia de folga. Isso era comum antigamente, mas está em extinção, não existe mais. Acho que a Val deve ser a última.

Regina não crê que o prêmio veio pela linguagem ou pelas palavras. Para a atriz, o destaque ocorreu por causa dos gestos, da expressão corporal e da emoção intensa. “Em quase todas as cenas eu estava muito comovida, emocionada, envolvida. As empregadas têm uma importância enorme, passam uma cultura que não é acessível a quem mora em bairros de classes média e alta.”

Perguntada sobre suas apostas ao Oscar, ela confessa não estar por dentro da premiação. “Não acompanhei nada. Estou na festa de Iemanjá aqui no Rio Vermelho, total outra onda.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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