Refabulações pouco convencionais é diversão garantida

A sociedade vista como uma floresta a céu aberto por onde transitam cobras, cachorros, tartarugas, aves, macacos, sapos e outros tipos. Usando e abusando das possibilidades que a literatura permite, Cachorros do Céu, de Wilson Bueno, faz pilhéria do comportamento humano sob o disfarce de animais. O leitor encontra de tudo, desde pistoleiro e assassinos até pop star, passando por interesseiras, malandros, apaixonados e alguns sábios. O que não se encontra nas linhas são pessoas, de fato. Apenas nas entrelinhas.

Em meio a enxurrada literária de consumo, vipes nas listas dos mais vendidos, a alegoria de Bueno chega as livrarias oferecendo uma coleção de fábulas nada convencionais. Com um texto elaborado, cada fábula sofre uma metamorfose entre a vida vista pelo seu lado óbvio e o óbvio visto com zombaria, contudo, sempre racional e com o maior gracejo. Como o crítico Ivo Barroso escreve no texto de orelha: ?Um fabulário no mau sentido da palavra, pois, nele, longe de os textos se revelarem morais, são escárneos desmoralizantes em si mesmos e desmoralizantes das intenções construtivas das fábulas convencionais?.

Para o leitor observador, a obra é um prato cheio de passagens sutis e divertidas. Longe de ser um livro pesado, a cada duas ou três folhas, uma página recebe as ilustrações de Ulysses Bôscoli. Logo no primeira fábula um enorme cachorro estilizado está com a boca aberta, como quem fixa o olhar no texto da página seguinte, que leva o título Dog, o facínora. Sim, um perverso criminoso (cachorro?) impõe algumas surpresas aos clientes do ?sallon? de um coelho. Segue o trecho: – ?O Dog que me desculpe… Juro que eu não vi que a bacia tinha um cabo rosa… – e foi então um chuvaréu de bala, e bala, e bala, com o Macaco ileso saltando entre uma e outra feito dançasse a tarantela. O Jaboti, não precisa dizer, virou sopa de tartaruga?.

O autor teve o cuidado de classificar os personagens (humano) com um animal respectivo à personalidade que o primeiro assume. Macaco que é macaco velho também é malandro para não ser alvejado; e como jabuti que é jabuti se move a passo lento, vira sopa de tartaruga.

Ao longo da narrativa os atos da bicharada lembram as atitudes que as pessoas tomam na vida cotidiana. O fotógrafo profissional da história, o Lagarto, é apaixonado pela linda Rã, musa inspiradora e alvo de seus flashes. Mas como a civilização não vive só de malandragem e festa, nela encontramos uma coruja filósofa formada em letras com especialização em língua portuguesa, e tal como na vida, entre um cochilo e outro um macaco preguiçoso aprende a conjugação verbal. Assim caminha o homem como bicho dentro do imenso zoológico irracional que existe desde que o mundo é mundo.

Wilson Bueno é autor, entre outro livros, de Mar paraguayo, Meu tio Roseno, a cavalo e Amar-te a ti nem sei se com carícias. Suas obras foram publicadas no Chile, Cuba, México, Argentina e Estados Unidos.

Serviço:

Cachorros do céu, texto de Wilson Bueno e ilustrações de Ulysses Bôscoli, é uma publicação da editora Planeta. Preço aproximado R$ 27, 96 páginas.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo
O conteúdo do comentário é de responsabilidade do autor da mensagem. Ao comentar na Tribuna você aceita automaticamente as Política de Privacidade e Termos de Uso da Tribuna e da Plataforma Facebook. Os usuários também podem denunciar comentários que desrespeitem os termos de uso usando as ferramentas da plataforma Facebook.