Quando a feiúra é fundamental

Não fosse pelo histórico da obra, a nova aposta da Rede TV! no mercado das telenovelas poderia até parecer ousada. A personagem principal de “Betty, a Feia”, que a emissora exibe a partir de amanhã, às 19h50 h, é uma verdadeira anti-heroína: além de não preencher os requisitos da típica boazinha, Betty é feia, desengonçada, mal vestida, usa aparelho nos dentes e óculos estilo fundo de garrafa.

Mas a aposta no patinho feio não é nenhum tiro no escuro. A novela, produzida pelo canal colombiano RCN, chega à Rede TV! amparada pelo sucesso nos mais de 20 países onde foi exibida, entre eles Argentina, México, Estados Unidos e Espanha. Na Colômbia, a audiência da RCN pulou de 31 para 51 pontos com a exibição de “Yo Soy Betty, la Fea”, nome original da trama. Nos Estados Unidos, a Telemundo enviou uma equipe à Colômbia especialmente para entrevistar os atores.

O sucesso pegou de surpresa até mesmo o autor da novela, Fernando Gaitán, responsável também por “Café com Aroma de Mulher”, que o SBT exibiu no ano passado. “É claro que eu sonhava com o sucesso, mas era um projeto muito ambicioso, uma novela experimental”, conta Gaitán. Fã da literatura, da música e da televisão brasileiras, ele espera que Betty possa repetir aqui o sucesso que vem fazendo em outros países. Mas tem consciência de que o Brasil é um mercado difícil para as novelas estrangeiras.

A trama conta a história de Beatriz Pinzón, a Betty, uma moça de 26 anos, tímida, ingênua e feia. “Betty não é a protagonista usual das novelas. Ela está mais próxima da espectadora usual das novelas”, lembra o autor, com surpreendente franqueza. Ele explica que se inspirou na competição pela beleza e na corrida a spas, cirurgias e tratamentos estéticos para criar a personagem. Betty é uma economista de destacada inteligência, mas a melhor oportunidade profissional que consegue, depois de enviar um currículo sem foto à poderosa empresa de confecção Eco Moda, é um emprego de secretária.

A moça feia acaba sendo uma escolha providencial para a modelo Marcela Valencia, ciumenta noiva do dono da empresa, Armando Mendonza. Como não poderia deixar de ser, Betty se apaixona por Armando e vai tentar protegê-lo de Daniel, o ambicioso irmão de Marcela, que faz de tudo para conquistar o cargo do cunhado. Para Armando, no entanto, Betty não passa de uma funcionária competente. E, é impossível não reparar, muito feia. Mas Marcela que se cuide. Afinal, todo patinho feio um dia pode se transformar num belo cisne… Ou terminar seus dias como um pobre pato horrível mesmo.

Beleza escondida

Mas Betty não corre esse risco. A personagem é interpretada pela bela atriz colombiana Ana María Orozco. Sem a maquiagem, os figurinos e adereços ridículos que utiliza para incorporar Betty, ela é a estrela ideal para qualquer produção que aposte nos rostos perfeitos e corpos esculturais. “A beleza física nunca foi importante para mim. É divertido as pessoas me acharem bonita em comparação com a Betty”, explica a atriz, que está em Nova Iorque para aprimorar seu inglês.

Ana María diz ter sido fácil e muito prazeroso interpretar uma personagem que tem na feiúra sua principal característica. “Desde o momento em que li a sinopse, a personagem me seduziu. Sempre pensei que muita gente pudesse se identificar com ela, mas nunca imaginei a dimensão que chegaria a tomar”, admite. A atriz foi lançada ao estrelato na novela “Perro Amor”, na qual interpretava uma jovem de classe média. Seu primeiro papel, em “La Potra Zaina”, era a mocinha típica das telenovelas: uma menina ingênua que sofre por um amor impossível. Agora, enquanto sua personagem mais famosa chega ao Brasil, Ana María pretende se dedicar à construção de uma carreira no cinema.

Por aqui, Betty será dublada por Fátima Noya, que também empresta sua voz a personagens como Gohan, do desenho animado “Dragonball Z”, e a beldades como Cameron Diaz e Elizabeth Hurley. Convivendo com Betty há duas semanas, Fátima aposta no sucesso da novela. “Num mundo onde o rostinho bonito é tão valorizado, chama a atenção uma personagem que não é a bonitona”, analisa a dubladora.

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