QUADRINHOS: Uma aventura de 50 anos

Ele nasceu na Itália, mas é o mais popular mocinho do faroeste norte-americano. No Brasil, completou cinqüenta anos (cinqüenta e um, para ser mais exato) de cavalgada e esteve sempre entre os heróis preferidos dos leitores brasileiros de gibis. Tex Willer, ou simplesmente Tex, ícone-mor dos quadrinhos italianos, continua sendo um dos maiores sucessos editoriais de todos os tempos, capaz de sobreviver à mudança de gerações, a planos econômicos, ao fechamento de editoras e a todas as crises do mercado (nacional e mundial).

Tex é um ranger de boa alma, inimigo declarado da injustiça, do preconceito e da prepotência, que tem a difícil missão de impor a lei e a ordem nas regiões mais selvagens do território americano, durante a conquista do Velho Oeste. Às vezes, prefere depor a insígnia e se tornar um simples cavaleiro andante à procura de novas aventuras, na garupa de seu cavalo Dinamite e ao lado dos fiéis companheiros Kit Carson e Jack Tigre e do filho Kit. Os guerreiros Navajos chamam-no de Águia da Noite e dedicam-lhe uma admiração e respeito inusuais em se tratando de um homem branco. Mas há uma razão para isso: Tex viveu durante algum tempo entre os Navajos e chegou a se casar com a filha do cacique, Lírio Branco, já falecida, mãe de Kit.

Tímida estréia

Criado pelo roteirista Giovanni Luigi Bonelli, com desenhos de Aurelio Galleppini, ou simplesmente Gallep, como se assinava o artista, Tex surgiu em 30 de setembro de 1948, na aventura O Totem Misterioso. Foi uma estréia tímida em uma revistinha de poucas páginas, de tiragem semanal, com formato horizontal, de 16 cm de largura por 7 cm de altura. Ele era, então, um jovem pistoleiro de calças escuras e camisa franjada, de jeito desembaraçado, sangue quente e rápido no gatilho, mas com algumas contas pendentes com a lei. Mesmo assim, tinha um código de honra próprio: matar apenas para se defender. Mas logo o nosso herói passaria a trilhar o caminho do bem e se tornar uma espécie de delegado federal.

O sucesso do novo personagem foi tamanho que surpreendeu os próprios editores, sobretudo porque, na época, a Europa ainda amargava os efeitos da Segunda Grande Guerra. E uma das razões talvez tenha sido a estrutura da narrativa, no estilo folhetim, com longas aventuras, quase intermináveis, marcadas com muita ação e uma pitada de humor, que projetavam o interesse do leitor sempre para o próximo número. “Os gibis de Tex” – como assinala Gonçalo Júnior, redator da Editora Opera Graphica (SP) – “podem ser lidos como um longa-metragem de cinema e não deixam nada a dever aos clássicos do faroeste da tela grande”.

Nos áureos tempos, a revista de Tex chegou a registrar vendas de 600 mil exemplares por edição, só na Itália. Hoje, dividida em vários títulos, atinge os 400 mil exemplares, ainda assim uma marca das mais respeitáveis.

No Brasil

Tex foi lançado no Brasil em 25 de fevereiro de 1951, com o nome de Texas Kid, pela Rio-Gráfica e Editora, de Roberto Marinho, no n.º 28 da revistinha Júnior, editada por Wilson Drummont e Djalma Sampaio. Seguiu o padrão e formato originais italianos, com histórias de 32 páginas, em tiras. Depois de 150 edições nesse tamanho, o título passou a ser publicado em 17,5 por 13,5 cm.

Na RGE, a carreira de Tex durou até o n.º 277, de fevereiro de 1958. Depois, amargou uma sentida ausência de treze anos, até que a Editora Vecchi (hoje também extinta) resolveu retomar o herói. Tex n.º 1 foi às bancas em fevereiro de 1971, com a história O Signo da Serpente, no formato italiano de 16 por 21 cm. Coincidentemente, essa parceria duraria também treze anos, até julho de 1983, quando a publicação foi abruptamente interrompida no n.º 163. Na Vecchi, a revista alcançou tiragens de 150 mil exemplares por edição.

Um mês depois, como bom filho, Tex retornava à RGE (depois Editora Globo), que optou por manter a numeração iniciada pela Vecchi. O n.º 164 trouxe a aventura Selva Cruel, datada de agosto de 1983. No velho endereço o caubói permaneceu até o n.º 350, quando transferiu-se para a sua atual editora, a My-thos, em janeiro de 199, com o n.º 351 e a história O Bando dos Irlandeses. A Editora Mythos (SP), dirigida por Dorival Vitor Lopes e Hélcio de Carvalho, deu seqüência, também, à Tex Coleção e à Tex Edição Histórica. Depois, viria a lançar Tex Gigante (março de 1999), Tex Anual (dezembro de 1999), Almanaque Tex (março de 2000), Tex Ouro (junho de 2002) e Tex Especial de Férias (julho de 2002).

Edição histórica

Comemorando os 50 anos de Tex no Brasil, a Editora Opera Graphica (SP), de Carlos Mann e Franco de Rosa, acaba de lançar, em parceria com o CLUQ – Clube dos Quadrinhos, de Wagner Augusto, um belo álbum de luxo, com 52 páginas em branco-e-preto e capa (cartonada) de Mozart Couto sobre a arte de Gallep, ao custo de R$ 14,90, contendo os três primeiros episódios da saga de Tex Willer (O Totem Misterioso, A Rocha Falante e Terror em Calver City), com textos assinados por G. L. Bonelli e desenhos de A. Galleppini. Além disso, procura contar em detalhes toda a trajetória editorial de Tex no Brasil, seus tropeços e sucessos; oferece os traços biográficos dos autores Bonelli e Gallep e relaciona todos os criadores gráficos, fixos e convidados especiais, do personagem.

Um lançamento precioso, de colecionador, encontrável, em Curitiba, na gibeteria Itiban da Rua Silva Jardim, 845 (tel. 232-5367).

Corra até lá, esperto quadrinheiro!

 

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