Essa foi uma das dificuldades da chef Flávia Quaresma, apresentadora do Mesa Para Dois com o chef Alex Atala, no GNT. Além da total falta de intimidade com as câmaras, a carioca mal acreditou quando passou a ser reconhecida nas ruas. "Faço um programa com um perfil mais intuitivo nas receitas, porque a gastronomia na tevê já saiu do prato. Tem gente que assiste ao programa e não cozinha nada, mas acha interessante", explica Flávia.
Na verdade, o público da tevê por assinatura está mais interessado em ingredientes diferenciados, como um azeite recomendado por um chef, por exemplo, enquanto os programas dessa linha na tevê aberta ainda seguem o formato tradicional. Muitos ainda seguem à risca o conhecido "feijão com arroz" de produções comandadas pelas cozinheiras Etty Fraser ou Ofélia Anunziatto, por exemplo, há quase duas décadas. No Receita Minuto da Band, o chef Daniel Bork garante que sua maior preocupação é oferecer um cardápio de baixo custo para a dona de casa. "Os programas por assinatura são lindos, mas nada práticos. Eu faço a realidade, não passo o glamour de uma novela das oito", alfineta.
Na mesma panela está o chef Eduardo Guedes, que cuida da parte de culinária do Hoje em Dia, nas manhãs da Record. "Minha intenção é fazer pratos baratos porque, quando o custo é alto, as pessoas preferem comer fora. Além disso, me preocupo em passar receitas onde os ingredientes possam ser encontrados em todo o país", valoriza.
Ainda na Record, o padeiro Olivier Anquier apresenta o quadro Diário do Olivier, no Domingo Espetacular. O francês, que há 27 anos vive no Brasil, estreou este programa em 1999 no GNT e se orgulha de ser o pioneiro em inserir demais ingredientes à gastronomia numa produção, como viagens que exploram sabores de diversas regiões. Depois do "boom" do "fast food" na década de 80, Olivier comemora o retorno da valorização da comida artesanal, que hoje se reflete na profusão de programas desta linha. "Culinária é cultura, por isso me permite falar de arte, de viagens, de conhecimento", explica, antes de emendar. "Há um tempo era triste ver culinária na tevê aberta. Hoje mudou o nível e a consciência", acredita.
Já nas tevês por assinatura, o poder aquisitivo mais elevado permite aos chefs e apresentadores um cardápio ainda mais variado de pautas. "Esses programas têm um pé no comportamento e um pé na gastronomia", observa o chef Felipe Bronze, que apresenta o Tá na Época, no GNT. "Este universo é muito vasto. É necessário focar a lente num assunto, pois os gostos mudam a cada dia", reflete o jornalista e enólogo Renato Machado, que apresenta, ao lado do chef Claude Troigros o programa Menu Confiança, no GNT.