Produtos feitos para a televisão, mas que migram para o cinema

A tevê e o cinema brasileiro sempre trocaram juras de amor. Nos anos 70 e 80, já flertavam entre si ao transpor à telona figuras de repercussão na telinha, como Xuxa e Os Trapalhões. O que antes era apenas um namorico, no entanto, acabou em casamento. A primeira emissora a cortejar abertamente a indústria cinematográfica foi a Globo, com a criação da Globo Filmes em 1997. O sucesso de filmes derivados da tevê, como O Auto da Compadecida e Os Normais, encorajaram Band e Record a fazerem o mesmo. Por isso, cresce o número de longas inspirados em séries, como Sítio do Pica-pau Amarelo; novelas, como Guerra dos Sexos, e até em apresentadoras, como Eliana. “Você nunca vai ter certeza do resultado. Vai depender sempre de uma boa história”, acredita Carlos Eduardo Rodrigues, diretor de operações da Globo Filmes.

Para ele, um exemplo de uma boa história é a do filme Os Normais, de José Alvarenga Jr. A versão cinematográfica da série mostrava como Rui e Vani, de Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres, se conheceram. “O cinema é uma escolha mais exigente que a tevê. Afinal, o público tem de sair de casa. Para isso, ele tem de saber que o filme é diferente do que está acostumado a ver na tevê”, justifica o diretor. A bilheteria de quase três milhões de pagantes foi tão boa que a Globo Filmes estuda uma continuação de Os Normais para 2005.

Mas não é sempre que existe uma boa idéia que justifique a transposição de uma série de tevê para o cinema. O redator Cláudio Paiva, por exemplo, se mostra reticente quanto ao projeto de se fazer um longa também para A Grande Família. “Esse projeto vai ficar na prateleira enquanto não tivermos uma história que valha a pena ser contada no cinema”, pondera. Para evitar tal dilema, Roberto Talma, responsável pelo Sítio do Pica-pau Amarelo, não quis adaptar para a tevê “A Chave do Tamanho”, um dos livros mais famosos de Monteiro Lobato. Preferiu guardá-lo para o cinema. “É uma aventura com muitos efeitos especiais, bem ao gosto da criançada de hoje”, empolga-se Mário Teixeira, redator do seriado.

Até novela

Não são apenas séries de tevê, porém, que estão nos planos da Globo Filmes para 2005. Para comemorar os 40 anos da emissora, a alta cúpula já estuda a transposição para película até de algumas de suas novelas de maior sucesso, como Guerra dos Sexos e Roque Santeiro. “Seria um equívoco pretender reproduzir uma novela em um filme. Quero pegar o tema e desenvolvê-lo novamente”, planeja Sílvio de Abreu. A Band e Record também querem tirar proveito da boa fase do cinema nacional. O projeto que vai inaugurar a Record Filmes é Eliana e o Segredo dos Golfinhos, de Eliane Fonseca. Para a diretora, a apresentadora da Record pode virar uma franquia tão ou mais poderosa que Xuxa e Angélica. “A Eliana tem uma preocupação ecológica e educativa que faltam nos filmes do gênero”, avalia.

Eliane Fonseca, aliás, parece estar se especializando na adaptação de produtos televisivos para o cinema. Ano passado, ela dirigiu Martelo de Vulcano, a versão em película do Ilha Rá-tim-bum, da Cultura. Não por acaso, a diretora faz parte também dos planos da Band Filmes. O braço cinematográfico da Band planeja co-produzir Coisas de Mulher, escrito e protagonizado pelas meninas do Grelo Falante, o mesmo grupo do extinto Garotas do Programa, da Globo. “A Band vai priorizar filmes de prestígio, não necessariamente de grande rentabilidade, e comédias de bom gosto”, avisa Cláudio Petraglia, da Band Filmes.

Uns já fizeram, outros sonham…

# Depois de ser exibido no cinema, o filme Canudos, dirigido por Sérgio Rezende em 1998, virou minissérie da Globo. O mesmo caminho vai ser trilhado por Olga, cinebiografia de Jayme Monjardim para Olga Benário Prestes.

# A produção de Eliana e o Segredo dos Golfinhos está sob a responsabilidade da produtora Casablanca, a mesma da novela Metamorphoses e da série Turma do Gueto. As filmagens começam em maio na Riviera Maio, no Caribe.

# Mesmo já tendo sido exibido na tevê, o filme O Auto da Compadecida, de Guel Arraes, repetiu o sucesso na tela grande: 2,1 milhões de pagantes. Já Caramuru – A Invenção do Brasil, do mesmo diretor, não passou dos 245 mil espectadores.

# O apresentador Carlos Massa, o Ratinho, também alimenta o sonho de, um dia, enveredar pelo cinema. Mas ele não vai ser o primeiro. Nos anos 80, Fausto Silva estrelou Inspetor Faustão e o Mallandro, produzido por Diler Trindade.

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