Solano Ribeiro fez acontecer os famosos festivais de MPB, que reuniam centenas de milhares de espectadores em delírio total e se constituíram em um dos maiores eventos da televisão brasileira.

Nas noites das finalíssimas, teatros e cinemas da cidade de São Paulo ficavam às moscas, as ruas vazias. Suspiro preso, o Brasil ficava em suspenso para torcer pelos artistas que hoje são ícones da nossa cena musical, mas que então eram apenas revelações dos festivais – como Chico Buarque, Elis Regina, Geraldo Vandré, Jair Rodrigues, Gilberto Gil, Gal Costa, Milton Nascimento, Os Mutantes, Edu Lobo e Caetano Veloso.

Prepare Seu Coração (Geração Editorial, 250 páginas) é o depoimento eletrizante de um dos protagonistas da época que revolucionou a cultura brasileira. Ilustrado com dezenas de fotos e prefaciado por J.B. de Oliveira Sobrinho, o Boni, o livro traz um CD com quatorze dos grandes sucessos dos festivais, como a gravação rara de É proibido proibir, em que Caetano brada com Os Mutantes contra a pressão da música de protesto.

Por sua vida ser inseparável da história da música e da televisão do País, as histórias que Solano reuniu, em tom deliciosamente confessional, são um recorte singular dos rumos que o Brasil tomou nas últimas quatro décadas. É por isso que, ao lado de impressões sobre a ditadura (“Então o meu nome não está na lista? Não estava. Sentei no escuro com uma sensação estranha. Eu não tinha a importância que pensava para a repressão”), está a falta de pudor para falar do quase-noivado com Elis Regina, quando esta começava a carreira (“Nossos corpos ardidos e suados viveram os primeiros momentos de tranqüila intimidade”), ou de sua experiência com as drogas (“Alguns amigos já haviam experimentado a mescalina e faziam a apologia de seus efeitos”).

Os festivais aconteceram de 1965 e 1972, mas no ano 2000 Solano Ribeiro quis revivê-los. Esse fracasso também está no livro. Mas é de se indagar ao autor: três anos após o festival de 2000, ainda está em seu horizonte a criação de festivais de MPB? Quais seus projetos atualmente?

E ele responde: “Meu projeto é começar do começo. Os festivais que realizei tiveram como ponto de partida o Teatro de Arena com 150 lugares. Hoje existe um elenco notável em desenvolvimento que precisa ser trabalhado e exposto a uma platéia sedenta de música de qualidade. Essa música já pode ser encontrada por todo o País, nos bares, nos teatros, nas garagens, na periferia e na produção musical independente. Estou tentando realizar o projeto Fasmúsica, utilizando o teatro da Faculdade Santa Marcelina (FASM). Em apresentações semanais, vamos criar parcerias estimulando o aparecimento de novas músicas e novas experimentações, que vão abrir espaço para os novos artistas convivendo com o que já podemos denominar de os emergentes e (por que não?) com os já consagrados. O tempo, a mídia e o público darão a resposta quando tiver chegado a hora”.

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