Minuta de edital do Prêmio Nacional das Artes, anunciado pelo ex-secretário de Cultura Roberto Alvim, apresentava o concurso como uma forma de levar o “conservadorismo” para “além da recuperação econômica e da garantia de Justiça e Segurança Pública”. A proposta está suspensa desde o discurso do ex-secretário, que parafraseou o ministro nazista Joseph Goebbels.

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O documento obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo via Lei de Acesso à Informação aponta que proposta com tal teor já era discutida internamente desde o início de janeiro. Na quarta, 19, a reportagem mostrou que parecer da Consultoria Jurídica da Secretaria Especial de Cultura afastou a “possibilidade de defesa” do edital após o discurso de Alvim. Segundo a advocacia da União, a fala do ex-secretário tornou “inconteste” a associação do nazismo ao concurso.

Oficialmente apresentado como um prêmio para garantir o “renascimento das artes e da cultura”, a proposta inicial mostrava que seu objetivo seria recuperar “os princípios e os valores da civilização ocidental”.
A minuta foi encaminhada a servidores para “avaliação, apontamentos e contribuições” em 2 de janeiro, após uma reunião de Alvim com coordenadores do Programa de Cultura do Trabalhador. A proposta seria anunciada duas semanas depois, no dia 16.

“A Pátria, a Família e a Coragem do Povo e nossa profunda ligação com Deus norteiam nossas ações na criação de políticas públicas”, aponta a minuta. “As virtudes da fé, da lealdade, do autossacrifício e da luta contra o mal serão alçadas ao território sagrado das obras de arte”, diz o texto. O documento aponta que o concurso buscava ser um “marco histórico” na arte brasileira. “Sua implementação e perpetuação ao longo dos próximos anos irá redefinir a qualidade da produção cultural em nosso País.”

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Alvim era considerado nos bastidores como um nome de confiança do presidente Jair Bolsonaro, compartilhando posições do Planalto em relação ao conservadorismo nos costumes. Antes de assumir a Secretaria Especial de Cultura, em novembro de 2019, Alvim esteve à frente do Centro de Artes Cênicas da Funarte, onde provocou polêmica ao atacar verbalmente a atriz Fernanda Montenegro.

Discípulo de Olavo de Carvalho, Alvim chegou a declarar nas redes sociais que “arte de esquerda é doutrinação e arte de direita é emancipação poética”.

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Arquivamento

O discurso de Roberto Alvim ao anunciar o Prêmio Nacional das Artes levou a Consultoria Jurídica da Secretaria de Cultura a recomendar o arquivamento imediato do edital. Segundo parecer do advogado da União Eduardo Magalhães, as frases ditas pelo ex-secretário “impossibilitavam uma defesa jurídica do caso”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.