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Premiado nos EUA, ‘Amazônia Groove’ explora sons típicos da região no Pará

“Mas égua! Que mistura pai d’égua aconteceu no Pará / Mistura de raça, mistura de cores, tradição e sabores / E o nosso tempero, o famoso banho de cheiro”, canta a sempre alegre Dona Onete em uma das faixas do seu terceiro disco, Rebujo, lançado em maio – ela faz show em São Paulo nesta sexta, 7. Mas antes, nesta quinta, 6, estreia nos cinemas o documentário Amazônia Groove, a estreia de Bruno Murtinho em longas-metragens. O filme faz uma investida pela Amazônia para explorar os sons – ou a “mistura pai d’égua” – do Pará.

O longa abre espaço para personagens da música do Estado, examinando ritmos, do violão clássico ao tecnobrega, passando pelo carimbó e pela guitarrada, sem esquecer os arranjos embrenhados nas regiões ribeirinhas, como o “búfalo-bumbá”. Mesmo com o valor das histórias, o filme se destaca por outro aspecto: em Austin, no South By Southwest 2019, levou o prêmio de fotografia do festival (quem assina é Jacques Cheuiche, de Edifício Master e Uma Noite em 67).

Murtinho também reuniu uma equipe de som estrelada para o filme: Mario Caldato Jr., produtor brasileiro parceiro de Beastie Boys, Björk, Jack Johnson, Marcelo D2 e muitos outros, fez a mixagem. Roberto Pollo fez a trilha, e a ambiência do som amazônico foi realizada por Nicolas Becker, solicitado engenheiro de som que levou um Oscar com Gravidade em 2014 – é bonito notar como a primeira música do filme é a música da floresta, do canto de pássaros, insetos, água e outros elementos. A direção musical é de Marco André.

Uma das histórias contadas no filme é do Mestre Damasceno, criador do búfalo-bumbá, festa inspirada no boi-bumbá mas adaptada à cultura da Ilha de Marajó (“onde é que existe sertanejo no Marajó?”, pergunta no filme, rindo). Depois de um acidente que o deixou cego, experiências com pajelança lhe renderam respeito na região natal e a música se tornou sua ferramenta de ver o mundo. “Eu penso em algo que existe em Salvaterra, faço uma música. Gosto de mostrar minha cultura para o mundo”, diz, no filme.

Quem concorda com ele é Manoel Cordeiro, elemento-chave da música paraense contemporânea, também personagem do filme. “O rio (Amazonas) inspira poesia. Essa poesia provém da água, dessa natureza exuberante, que Villa-Lobos disse que jamais botaria mordaça.” O rio, a água, funcionam então como um vetor de divulgação dos sons do Pará – é a constatação desse belo documentário.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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