Pobreza de idéias marcam os filmes em Gramado

É a pergunta que não quer calar: quem fez a seleção dos filmes concorrentes no 32.º Festival de Gramado – Cinema Brasileiro e Latino? Com exceção do cubano Suite Habana, de Fernando Pérez, os filmes andam de mal a pior. Curtas e longas equiparam-se na pobreza de idéias e, quando têm idéias, elas são no mínimo discutíveis.

Foram exibidos mais três curtas na quarta-feira à noite. Só um fica na lembrança. Messalina, de Cristiane Oliveira, conta a história de uma garota cega que atende a um telefonema na rua. Ela passa, o telefone do orelhão chama e a futura Messalina vai atender. É um cara que procura a mulher que oferece serviços sexuais num anúncio de jornal. A cega assume o papel. Libera fantasias sexuais que talvez nem julgassem existir. A diretora diz que seu desafio foi expressar o imaginário sexual, tão calcado na imagem do ponto de vista de alguém que não enxerga. Fez um filme muito interessante.

No palco do Palácio dos Festivais, só o curta-metragista gaúcho Jaime Lerner fez referência ao tema. Ao apresentar seu curta A Feijoada, ele saudou o atual momento, quando o governo propõe uma legislação que definiu como necessária para fazer o cinema brasileiro avançar. Também já circularam discretamente cópias que reproduzem falas de Cacá Diegues no congresso do cinema brasileiro realizado em Porto Alegre, há alguns anos. Cacá, entre outras coisas, pedia a taxação da publicidade. É a contramão do que ele diz hoje.

Na quarta, foram exibidos dois longas, um brasileiro, o outro português. No intervalo entre ambos, Tizuka Yamasaki subiu ao palco para receber o troféu Eduardo Abelim, que leva o nome do pioneiro do cinema gaúcho. Lembrou que nasceu no Rio Grande do Sul, mas saiu quase bebê daqui. Disse que um prêmio dessa envergadura é importante porque avaliza uma carreira. Tizuka define-se como uma mulher movida a desafios. O atual é garantir um bom lançamento para Gaijin 2, seu novo longa, que já está pronto, mas deve estrear só em março do ano que vem.

Outro longa brasileiro de pouco interesse foi Procuradas, produção de Santa Catarina, com direção de José Frazão e Zeca Pires. Você que vai a Florianópolis e acha a ilha linda, com suas praias maravilhosas, abra os olhos. Aquilo é uma Sodoma e Gomorra de fazer inveja às mais famosas cidades-lupanares do Oriente. Duas garotas de programa desaparecem durante passeio de barco com os clientes.

O enredo é sobre diretora que realiza documentário sobre a prostituição de alto nível em Floripa, une-se à irmã de uma delas para investigar o caso. O filme é uma ficção travestida de documentário. Rola uma sacanagem legal (sob a aparência de denúncia). E se Procuradas fica na lembrança, é porque Frazão e Pires reuniram um elenco de mulheres bonitas para ninguém botar defeito. Paula Burlamaqui, uma das desaparecidas, despe-se diante da câmera e encara um nu frontal, numa cena supostamente de grande dramaticidade. Arte? Não exageremos. Mas que Paula está saradona, ah, isto está.

Patrocínio do governo para o cinema

A Petrobras anunciou ontem, durante o Festival de Gramado, a seleção pública para difusão de filmes de longa-metragem, com orçamento previsto de R$ 2 milhões. O projeto é a última etapa do edital do Programa Petrobras Cultural de 2003. Os formulários de inscrição estão disponíveis no site www.petrobras.com.br até o dia 16 de setembro de 2004. Os resultados deverão ser anunciados no dia 14 de outubro.

A iniciativa foi explorada politicamente. O ministro em exercício, enviado pelo MinC, Sérgio de Sá Leitão fez questão de estar presente no anúncio juntamente com membros da Petrobras. voltou a insistir que o projeto apresentado tem caráter econômico e que em nenhum momento se discutiu um possível controle ou interferência, por parte do governo, no conteúdo das produções. Leitão tem um encontro marcado, no sábado, com diretores e jornalistas para “esclarecer mal-entendidos com relação à questão”. Segundo ele, também foi marcada, para segunda-feira, em São Paulo, uma reunião em que membros da sociedade civil vão apresentar propostas e reivindicações aos demais integrantes do Conselho de Ancinav

De qualquer maneira, as inscrições podem ser feitas pela internet com envio do projeto pelos Correios para a Petrobras até o dia 17 de setembro. Cada projeto poderá solicitar um patrocínio de até R$ 400 mil. Poderão ser beneficiados na seleção filmes independentes feitos em 16mm, 35mm ou vídeo digital, com cópia final em película para exibição em salas de cinema.

Presidente Lula

Luiz Inácio Lula da Silva vem mesmo ao Rio Grande do Sul no fim de semana e a expectativa é de que o presidente suba a serra para prestigiar o festival. Se Lula vier mesmo, não haverá como fugir ao tema da Ancinav, a Agência do Cinema e do Audiovisual, que vem sendo discutida nos bastidores do festival.

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