Faz alguns anos que o vinil está de volta, mas para o artista sonoro e compositor britânico Philip Jeck o formato nunca saiu de moda. Pelo contrário: desde os anos 1980 ele faz música a partir das bolachas, filtrando o som dos discos por vitrolas antigas, reorganizando e manipulando os pedaços que lhe convêm. “Eles vêm com sua própria história, não só na música e no som que eles contêm, mas também nos arranhões e nas marcas que eles ganharam, uma espécie de pátina”, explica o artista em entrevista por e-mail à reportagem. O resultado são paisagens sonoras ou composições abstratas e eletrônicas em que o material original é borrado, quase irreconhecível, a não ser pelos eventuais chiados e ruídos típicos de um toca-discos.

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É o caso de Vinyl Requiem, uma performance audiovisual que ele fez em parceria com o artista Lol Sargent. No trabalho apresentado em 1993 na Union Chapel, em Londres, 180 toca-discos eram tocados por três operadores dirigidos por Jeck, à frente da instalação controlando vitrolas antigas, enquanto Sargent usava a espécie de parede sonora para projetar imagens. Criada como um velório para o vinil, na época em baixa por causa da popularização do CD, o trabalho é um dos mais conhecidos e representativos do britânico.

São esses experimentalismos que Jeck traz para o 4º Festival Novas Frequências, no Rio. Além de uma oficina nesta sexta-feira, 12, e uma master class sobre sua carreira e seu processo artístico no sábado, 13, ele faz uma performance no domingo, 14, fruto de uma das primeiras residências artísticas do evento.

Durante o tempo que passou na cidade, Jeck vasculhou sebos e acervos de colecionadores em busca de vinis antigos e descartados. Com pedais de guitarra e baixo, um mixador e um teclado, ele usará os discos como instrumentos, fazendo música nova a partir de música antiga. “Os toca-discos que eu uso são de muito baixa fidelidade. Eles dão cor ao som que eu coletei do vinil, cada vitrola de uma maneira diferente. Os sons sutis que surgem são uma combinação dos discos, do estado em que estão e do jeito que as vitrolas brincam com suas imperfeições e a manipulação que faço”.

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Jeck não foi sempre tão inusitado, no entanto. Formado em Artes Visuais pela Dartington College of Arts, uma de suas primeiras influências foi o DJ americano Larry Levan, cuja residência no clube Paradise Garage, em Nova York, é uma das origens do house. Inspirado por ele e pelo DJ e produtor Walter Gibbons, relacionado à disco music, Jeck começou a fazer sua própria música. “O que eu gostava neles era o jeito que eles mixavam os sons dos discos, expandindo partes da música num mix de alta voltagem que agitava as pessoas na pista de dança. Eu acho que é isso que eu tento alcançar no meu próprio trabalho, não para a pista, mas com uma intensidade semelhante que eu espero tocar o ouvinte”, explica.